segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Bailarina





 Que jóias a trouxeram
do mar profundo?
As flores das estrelas
 o mel do mundo?

A dançar o amor
somente o amor

em meus 
submundos.






sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Hora de breve doçura







" É a hora em que as sombras leves
amadurecem as coisas no mundo
é a hora da breve doçura "



Augusto Frederico Schmidt








O canto das sereias








Indiferente ao rochedo frio, há horas recolheu-se na Pedra do Albatroz. 

Sentou-se naquela posição que lhe era peculiar, abraçando os joelhos, a cabeça baixa, taciturna. Não observa, bem acima, os rabiscos que as gaivotas fazem em um céu de amianto. Não quer encarar o farol, quieto e soturno, como um gigante leve, irmão dos pássaros e das vagas, cativando os silêncios d’alma. Não quer reparar no vento penteando com força as crespas folhas de pequenas moitas valentes.

        Mais abaixo, as ondas oferecem lânguidamente, níveas colchas de alfenim aos pés do rochedo ríspido e imberbe.

        De súbito, abre olhos e os sentidos já estão envolvidos em um canto sedutor. Ergue a pesada cabeça, levanta-se atônito enfrentando camadas e camadas de carícias da cantilena que vem do mar e o alicia perturbadoramente.

Ensaia os primeiros passos descendo rumo ao imenso colchão de espuma, os olhos já enamorados, a alma derramando-se no balé das vagas, absorta em um brechó de sensações e prazeres inefáveis.

A vista cambiante perde-se no elo sempiterno entre mar e firmamento. É doce e feiticeiro o realejo à maresia. 

Súbito, anjos irrompem a abóbada de amianto. Entre atentos e pressurosos,  em meio  a miríades de sereias, acompanham o canto em segunda voz. 

O pescador sente como se lhe imprimissem n’alma uma primeira demão dos sentidos que retornam. Olhos cansados. Cílios beijam-se suavemente. Enxuga o suor da face, faminto, recolhe os apetrechos. Atônito , um pouco zonzo. Percebe que já é tempo de retornar à casa.

  

   DAVI CARTES ALVES 







domingo, 20 de novembro de 2011

Arco - íris






O menino caminhava à beira mar com seus amigos. Já estavam muito cansados. A bem dizer, exaustos, quando ao longe avistaram um bando de cães. Diversos, canhestros, esverdeados. E os cães começaram latir. Mas latiam num ritmo paralisado. Rotação emperrada que impedia o som. Dos seus uivos formou-se uma espécie de gaze , véu lilás cobrindo todo o mar, que agora exalava uma fina e perfumada fumaça salmão sublevando e balbuciando canções de ninar. 

         Seria o incenso das sereias, emergindo do imenso e colorido véu sonoro? Talvez os meninos pensassem. Enquanto peixes com seus saltos coleantes fora d´água transmutavam-se prontamente em gaivotas-néon ascendendo em meio a grandes arraias e bailarinas evanescentes. Dos bicos desses insólitos pássaros derramavam-se barquinhos de papel, caindo suavemente na superfície lilás do mar. 

Seriam crianças de colo com suas gengivas lisas e lindos dentinhos os navegantes dessas embarcações? Os meninos talvez pensassem. 

Mas tudo se fecha e some no piscar dos grandes olhos verde esmeralda, velados por longos cílios da bela fada-sereia. Brincadeira de cabra-cega. Olhos que caíram na areia entre os garotos como lindas bolinhas de gude que tilintavam entre os gritos do barulhento intervalo escolar.

E eis que um bruto som abruto de buzina intima os garotos a olharem de súbito para a rua. Como alcatéia de lobos ou cães adormecidos quando ouvem um tiro no cio da noite, levantam as cabeças em uníssono, todas ao mesmo tempo em gesto idêntico. 

Seria talvez o barulho do ônibus  do Sacre-Coeur levando para longe as meninas que mascavam bolas de chicle. Metade uva, metade laranja? E o coração dos meninos pela metade. De repente, bate o sinal. Devem retornar às salas. O menino e seus amigos tapam os ouvidos e correm de olhos fechados. Lentos sons de latidos. A infância deslizando no  longo e encantador arco-íris.

Breve tempo infinito.



DAVI CARTES ALVES





terça-feira, 15 de novembro de 2011

Rosas douradas

 
 
 
Emergiam
em meio aos nossos lençóis
rosas douradas
perfumadas
com o nosso amor

sublime amor
engolfado no balé
de suaves carrocéis
e arraias de seda

pois o amor sempre foi
nosso banho de mar primeiro
enquanto você comandava
e direcionava
nossas carruagens de neon
 
depois
quando você se foi dos meus olhos
dos espelhos d'alma
só queria tanto
ter lhe dado
um último abraço, longo
terno & afetuoso abraço
 
e ali
naqueles segundos eldorados
tentar bisbilhotar
no teu coração
algo do meu

tão seu



  DAVI CARTES ALVES
 
 
 
 
 

domingo, 13 de novembro de 2011

Pablo Neruda

Matinal





Versos borrados
no guardanapo
 trazem a  fragrância
da teus lábios
embaralhando
 definições do amor

doce oferenda matinal
em coleante cesto de aljôfares
graça, suavidade, leveza
emoldurando minha inspiração
sob os poemas do teu olhar

enlevando
 os sensores do meu juízo
no orvalho do teu corpo
o relicário do paraiso

nívea acácia 
luz de encantos
das tuas pétalas a recender
a perfumaria dos anjos



DAVI CARTES ALVES
 
 
  
 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

nesta janela sobre o mar






O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar

O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar

O amor é grande e cabe
no breve espaço 

de beijar. 



Carlos Drummond de Andrade