segunda-feira, 29 de junho de 2015

Inverno











Lá fora o inverno
restam algumas flores baldias
resistindo heroicamente 

ao algoz de gelo

Jazem lânguidas,
lívidas e esquecidas


O sopro da morte
borrifado através da brisa crestante
faz com que desfolhadas
balbuciem o último suspiro


Prematuros suicidas
incauto namorado
a flor do ipê dourado
fulminado
com a azaleia rosicler


assim partiram também
o teu sorriso e meu encanto
naquela noite de inverno
melados de quentão
na feira do pinhão
aquecida ilusão


debaixo deste céu de chumbo
deslizas altaneira
neste calçadão de gelo


teu charme em relevo
emaranhado em cachecóis
me enlevam, me arrebatam
despretensiosamente
sem apelos


linda
ficas ainda mais bela
de sobretudo caramelo
os anéis dos seus cabelos
me anelam


ao roubarem beijos
dos teus lábios de mel
como travessos colibris.




  DAVI CARTES ALVES



















quinta-feira, 25 de junho de 2015

Katsushika Hokusai






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Katsushika Hokusai (1760 - 1849) foi um artista japonês, pintor de estilo ukiyo-e  e gravurista do período Edo. Em sua época, era um dos principais especialistas em pintura chinesa do Japão. Nascido em Edo (atual Tóquio), Hokusai é melhor conhecido como autor da série de xilogravuras "Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji" (1831) que inclui sua pintura icônica e internacionalmente conhecida, "A Grande Onda de Kanagawa", criada durante a década de 1820.




  




 









 

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Oficina - Manoel de Barros













Tentei montar com aquele meu amigo que tem um olhar
descomparado, uma Oficina de Desregular a Natureza.
Mas faltou dinheiro na hora para a gente alugar um
espaço. Ele propôs que montássemos por primeiro a
Oficina em alguma gruta. Por toda parte existia gruta,
ele disse. E por de logo achamos uma na beira da
estrada. Ponho por caso que até foi sorte nossa. Pois
que debaixo da gruta passava um rio. O que de melhor
houvesse para uma Oficina de Desregular Natureza!
Por de logo fizemos o primeiro trabalho. Era o
Besouro de olhar ajoelhado. Botaríamos esse Besouro
no canto mais nobre da gruta. Mas a gruta não tinha
canto mais nobre. Logo apareceu um lírio pensativo
de sol. De seguida o mesmo lírio pensativo de chão.
Pensamos que sendo o lírio um bem da natureza
prezado por Cristo resolvemos dar o nome ao trabalho
de Lírio pensativo de Deus. Ficou sendo. Logo fizemos
a Borboleta beata. E depois fizemos Uma idéia
de roupa rasgada de bunda. E A fivela de prender silêncios.
Depois elaboramos A canção para a lata defunta.
E ainda a seguir: O parafuso de veludo, O prego que
farfalha, O alicate cremoso. E por último aproveitamos
para imitar Picasso com A moça com o olho no centro
da testa. Picasso desregulava a natureza, tentamos
imitá-lo. Modéstia à parte.







Manoel de Barros