Dayane,
Quem anoiteceu assim com esta garoa fria a sua alma?
Quem levou teu sorriso, que devorava as nossas vidas enlevadas, sua graciosidade, faceirice, encanto? Quem furtou a tua segurança de outrora, a tua convicção nas respostas, teu caminhar tão lépido, ágil, picando o chão, tua consciência de poder supremo, tua auto-suficiência tão imantada, que nos enchia de um querer-te tanto: Lembro quando ficavas irritada:
“ Tá então tchau!! ”,
e o florido Jardim Botânico das nossas almas, transformava-se no cálido Kalahari sem suricatos.
Quem apagou o brilho dos seus grandes olhos límpidos, negros, e esfuziantes?
Lanchar com você no Dog do Queko, tomando gasosa Xereta, nos enchia de orgulho, falávamos alto entre a gente moça.
Teu beijo de despedida era tão aguardado, o premio de viver, aquele frescor e maciez dos teus lábios entre pétalas de tulipas, depois acariciava meu rosto, sorria pras estrelas me olhando da janela do quarto, elas sinalizavam-me uma esperança, embalsamada em pudor de criança.
Me envolver naquele ritual de enleio , ao contemplar embevecido aquele seu jeito de corrigir os cabelos, os braços, nus, frescos, macios, em arco, como se tu fosse executar um passo de bailarina, leve, felinamente delgada, olhando pra nós petrificados, aquelas madeixas em anéis de seda que prendiam-me quais algemas n’alma.
Oh Dayane, por quê atirar teu coração a pit bulls esfomeados, que só conjugam o verbo "trepar", que só querem tua pele de mel, e seu coração sacrificam ao Deus Banal, ou melhor, ao deus de Nabal de Abigail, por quê deixar cavalos insanos pisotearem tua alma de flor com velhas ferraduras?
Day, quantas vezes lhe repetíamos, não jogue assim suas “pérolas preciosas a porcos” ensandecidos, com cara de mau, não deixe mais cravarem em seu pescoço de cetim, suas presas como sanguessugas, para esvaziarem sua alma melíflua, sugando todo o seu leite de rosas.
O quanto tentava lhe consolar em vão:
No amor, não podemos dar uma de faquir, se posuimos pés e pele de recém nascidos, meu anjo lindo de neon.
Não negocie assim sua altaneira estima de fada, em troca de um belo invólucro que carrega dejetos de antes de ontem.
Sabe Dayane, quase entramos em pânico naquela manhã de outubro, quando o Zeca ligou do Terminal do Pinheirinho, e nos disse pressuroso, arfante, que você estava chorando naquele banco perto do ponto do ônibus Fazenda Rio Grande, chegamos correndo,
( é incrível como tem gente no Terminal do Pinheirinho, parece que tem um chafariz de gente naqueles túneis escuros, onde agora , forram o chão com uma colorida colcha de retalhos de dvds a 4 por 10, como borbota gente e mais gente, como que escoadas a granel , ejetadas a centenas, se viu que tem gente dependurada até nos lustres de iluminação? Balangando cai -não-cai.)
Cortou –nos a alma ver-te , cabisbaixa, sorumbática e taciturna, chorando a cântaros, lágrimas aos cachos, aos molhos, tuas mãozinhas nacaradas, tão trêmulas, enquanto uma segurava uma caixinha de Aldol , entre comprimidos no chão, no colo, no cabelo, na outra, resíduos de bombom caseiro de morango, manchando o best seller da Ronda Byrne, The Secret.
O mais triste, é ver você render-te a toda essa angustia, só porque aquele sapo bombado além de quebrar todas as suas varinhas de condão, que tanto nos enfeitiçaram, não queria mais o teu beijo, que tanto desejamos.
Oh Dayane, quem levou teu sorriso, que devorava nossas almas enlevadas, sua graciosidade, faceirice, encanto? Quem furtou a tua segurança de outrora, a tua convicção nas respostas, tua auto-suficiência tão imantada, que nos enchia de um querer-te tanto,
“tá então tchau!! ”, e o florido Jardim Botânico transformava-se em Kalahari sem suricatos.
Lembro-me, como seguravas firmes nas mãos, as rédeas do charme, do encanto, fascínio e sedução!
Quem apagou o brilho dos seus grandes olhos límpidos, negros, e esfuziantes como uma noite de verão, que nos fulminavam uma e muitas vezes?
E agora, vê-los assim semi - cerrados, com grandes olheiras de guaxinim com febre amarela. Doeu tanto n'alma.Uma chuva de lâminas no me coração bandido.
Quem foi capaz de fazer isso Day?
E lhe incentivava a ver o lado belo da vida, de que nem tudo estava perdido, e convidava-lhe: Vem , anime-se, vamos tomar um ônibus para o Jardim Botânico, sentir aquela brisa deliciosa de outrora, lembra? Correr atrás dos pombos, tentar fazer embaixadinha com eles, jogar conversa fora, ligar pra sua amiga Dora, tomar um sorvete de amora...
Vovó já nos dizia,
meu fio:
No amor,
Você não é quadrado
Mardito! Se vire!!!
E se não tiver pedras
Se atire!!!
E implorávamos:
Levanta Day, vem, vamos sair daqui...
By - DAVI CARTES ALVES