quinta-feira, 27 de junho de 2013

justiça & paz







para cada lágrima um lírio
um mar de buganvílias
para tanto
martírio 





DAVI CARTES ALVES







terça-feira, 25 de junho de 2013

Junho








Junho

O silencio dos pássaros

a quietude das árvores

o murmúrio dos rios

d’alma


Junho

os horizontes infinitos

as vastas brancuras



Junho
das chuvas incessantes

em que os miseráveis

rangem os dentes

ou apenas gengivas

toldos não bastam

marquises em vão


novos dias,
velhos algozes


Junho


folhas úmidas na invernada

suplicam dóceis lareiras
longos desertos de cobre e amianto
marchetam os céus

Junho

não terá meu coração

o agasalho das tuas mãos tépidas

não usufruirá minh’alma

a luz que aquece

dos teus lindos olhos fagueiros



mais um junho

sem você



saudade





 DAVI CARTES ALVES






 












quarta-feira, 19 de junho de 2013

as janelas se abriam









as janelas se abriam sobre uma erva de sonho
confundidas entre os cursos da água
no calor dos tijolos selvagens
encharcavam no vinho
os espessos triunfos de poentes partidos
em breve a dor já não estará viva
e o último luar ceifará e sua emoção
e a dura amizade que uma mola em tensão
ligava à sua sombra
 – eu era apenas sua sombra -




 Tristan Tzara






Ícaro



Com que então pertenço aos céus?
Não fosse assim, por que é que os céus
Me olhariam assim com seu eterno olhar azul,
Me chamando, e à minha mente, mais alto,
Sempre mais alto, sempre mais acima,
Me chamando sempre para o máximo,
Para alturas que homem algum imagina?
Por que, estudado o equilíbrio
E o vôo planejado até a última minúcia,
Até não haver margem para o infortúnio,
Por que, até aí, deve a ânsia de subir
Ser associada à insânia?
Nada nesta terra vai me ver satisfeito;
Novidades do mundo, logo monótonas;
Algo me chama lá em cima, para cima,
Cada vez mais perto da faísca do sol.


 
 
 
 
 
trecho de Ícaro, por Yukio Mishima
 
 
 
 
 
 

Soneto








 
Eu preciso de música que flua
nas pontas finas, frágeis dos meus dedos,
nos meus lábios amargos de segredos,
com melodia líquida e nua.

Ah, a antiga ginga sã e crua
de uma canção que aos mortos dê guarida,
água que me cai sobre a testa erguida,
o corpo febril, um brilho de Lua!

A melodia pode enfeitiçar:
magia calma, respiração pura,
um coração que afunda no abandono
da mansa, escura imensidão do mar

e flutua pra sempre na verdura,
amparado no ritmo e no sono.



Elizabeth Bishop






deve haver








deve haver algo de bom em mim
ou não teria tanta má idéia
o meu demônio 
tem pacto com o querubim
é uma ovelha 
o líder da alcatéia

fui o juiz do jogo yin versus yang
apitei faltas pras melhores frases
atirei na tela do meu big-bang
vi estrelas e quase quasares

se há algo de bom em mim, 
seja dita
a maldade que fez minha 
alma ambígua




Marcos Prado







Forma apocopada







Palavra que sofre supressão de letras
 ou fonemas em seu final



Exemplos:

 Belo - Bel , 
de  bel - prazer

Grande - Grão , Grã 
de grã--fino
 
Muito - Mui , 
de mui bela







sábado, 8 de junho de 2013

Jardim de estrelícias











Contemplá-la
É se perder pela órbita
De um céu de delícias



E caindo
Se afogar em deleite
Em um mar de carícias
 


Para amá-la
Entre pássaros de fogo
Em meio a origamis de luz
Num jardim de estrelícias





DAVI CARTES ALVES 







quarta-feira, 5 de junho de 2013

Cecília Meireles



 

   Quais os que tombam 
em crimes exaustos
  quais os que sobem
  purificados?



       Na noite quase perfeita
   da minha imaginação
     que é 
da tua mão direita?


               
          Há uma canção
        que já não fala
    que se recolhe dolorida
onde o lábio para cantá-la
 onde o tempo de ser ouvida ?










     

complexos










  " O conhecimento que tenho de ti
é um dos meus complexos
   castigos "




 Murilo Mendes








Carlos Drummond de Andrade









 " No ódio, no amor , na incompreensão
e no sublime cotidiano,
 tudo
 mas tudo é nosso irmão "










Mar em seresta









 Um pouco mais 
da brisa quieta
  delírios do sol
 mar em seresta

 
  deixar que a dor 
de tantos ontens
   ilumine a paz
de novos sonhos









segunda-feira, 3 de junho de 2013

Felicidade é











Domingo ensolarado
Cheirar café 
recém torrado
ser seu eterno 
namorado

de porções de amor
encher a pança
pela musa enjeitada
ser tirado 
para uma dança

Felicidade é:

ouvir o dia inteiro
gargalhada 
de criança.
 
 
 
 
 
 
DAVI CARTES ALVES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

domingo, 2 de junho de 2013

Musas










  Algumas musas
são indecifráveis
para uma só 
 geração de pecadores


 e quando elas seduzem
   não a geração
 que as  definam





DAVI CARTES ALVES