sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A morte devagar












Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.

Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. 
Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não dá papo para quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru e seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.

Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja quem não lê quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.

Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntando sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagam o que sabe.

Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante. Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. 
Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menos evitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior do que simplesmente respirar.

(Martha Medeiros )







pessoas















"Nesse momento há 6 bilhões, 
470 milhões, 818 mil, 671 pessoas no mundo...
...algumas pessoas estão fugindo assustadas,...
...algumas estão voltando para casa,...
...algumas mentem para suportar o dia,...
...outras estão enfrentando a verdade,...
...alguns maus indo contra o bem,...
...e outros bons lutando contra o mal.
Seis bilhões de pessoas no mundo ,...
...seis bilhões de almas,...
...e às vezes só precisamos de uma!"









Brigitte Bardot e Clarice Lispector













"Exagerada toda a vida: 
minhas paixões são ardentes;
 minhas dores de cotovelo,
 de querer morrer; louca do tipo desvairada; 
briguenta de tô de mal pra sempre;
 durmo treze horas seguidas; 
meus amigos são semi-irmãos; 
meus amores são sempre eternos 
e meus dramas,
 mexicanos."






Tranquilidade e inconstância, 
pedra e coração.
Sou abraços, sorrisos, 
ânimo, bom humor, 
sarcasmo, preguiça e sono.
 Música alta e silêncio. 
serei o que você quiser, mas só quando eu quiser.
 Não me limito, não sou cruel comigo! 
Serei sempre apego pelo que vale a pena
 e desapego pelo que não quer valer…
 Suponho que me entender 
não é uma questão de inteligência 
e sim de sentir,
 de entrar em contato… 
Ou toca, ou não toca.”





Clarice Lispector

















Brigitte Bardot








quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

folhas espalham a ciranda







domingo 
manhã de sol
o último lápis da caixa
a tarde
pingo de chuva na janela
cheiro de bolo de laranja
folhas espalham a ciranda
cortam o tempo
as espadas
do cata vento
e ela trata de preservar
o azul  suave das  asas






sábado, 22 de fevereiro de 2014

Vislumbre










Realmente
algumas lembranças
são vestígios
de lágrimas

E nos sonhos
quando choramos
as lágrimas só caem
no dia seguinte
com as pétalas feridas

num que de horas
que se ama mais
de olhar para as nuvens
enchidas de saudade
querendo aplausos
para os dramas que encenam
dos homens

esquecer
pois o amor 
só chega na hora certa
não é bom encontrá-lo
nem muito antes
nem muito depois

e voar batendo asas em vertigem
feito pássaro sem os pés
que não consegue pousar
dos céus dos teus encantos

colher as pétalas
que caem das palavras
vislumbre de eternidade
no suave toque entre cílios

 "eu acho suas asas incoerentes
    com as algemas que você carrega"

do amor








DAVI CARTES ALVES







sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

tristeza




ia  fazer a prova do TRT SP
 neste domingo, 23
mas com a morte de alguém
tão importante e tão especial
nesta semana
ficou muito, muito difícil
:(





domingo, 16 de fevereiro de 2014

poeminha










Todas as formas
 de compor o amor
por versos curtos
em beijos longos
ouvindo uns céus
que não se calam
e na música da tua voz
silenciam chorosos
garoando saudosos
pétalas que balbuciam paixões
sonhos em asas de areia
luz de candeia
todas as formas
de compor o amor
são escassas 
sob o céu adorável
de cisnes suaves
os teus braços fagueiros






DAVI CARTES ALVES











sábado, 1 de fevereiro de 2014

Hermann









O correr das águas,
 a passagem das nuvens,
o brincar das crianças,
o sangue nas veias
esta é a música de Deus



 Se temos a possibilidade 
de tornar mais feliz 
e mais sereno 
um ser humano, 
devemos fazê-lo sempre


 Não devemos fugir da vita activa
 para a vita contemplativa, 
nem vice-versa, 
mas variando entre as duas,
 estar sempre a caminho, 
nas duas ter a nossa morada, 
participar de ambas


 "Nada lhe posso dar 
que já não exista em você mesmo
 não posso abrir-lhe outro mundo de imagens,
 além daquele que há em sua própria alma
nada lhe posso dar a não ser a oportunidade,
o impulso, a chave
 eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, 
e isso é tudo."






Hermann Hesse