O sono da razão produz monstros
Goya
A dona de casa Fabiane Maria de Jesus, de 33 anos, morreu na manhã desta segunda-feira (5), dois dias após ter sido espancada por dezenas de moradores de Guarujá, no litoral de São Paulo. Segundo a família, ela foi agredida a partir de um boato gerado por uma página em uma rede social que afirmava que a dona de casa sequestrava crianças para utilizá-las em rituais de magia negra.
De acordo com familiares de Fabiane, após as agressões, ela sofreu
traumatismo craniano e foi internada em estado crítico no Hospital Santo
Amaro, também em Guarujá.
Minutos após a agressão, a Polícia Militar chegou a isolar o corpo de
Fabiane acreditando que ela estava morta após o espancamento. Na manhã
desta segunda-feira, porém, a família recebeu a informação de que
Fabiane não resistiu aos ferimentos e morreu.
O espancamento aconteceu no bairro Morrinhos no início da noite deste
sábado (3). A mulher foi amarrada e agredida e, segundo testemunhas que
acompanharam a agressão, os moradores afirmavam que a mulher havia
sequestrado uma criança para realizar trabalhos de magia negra. O caso
foi registrado na Delegacia Sede de Guarujá, onde será investigado . Até o momento, ninguém foi preso. A polícia está analisando as imagens da agressão e busca identificar os envolvidos no caso.
Jaílson Alves das Neves afirmou, em entrevista ao G1
antes de saber da morte da mulher, que a esposa era inocente. De acordo
com ele, a página se confundiu ao colocar uma foto de Fabiane em seu
perfil e isso motivou as agressões. “Começou com um boato na internet.
Eles colocaram uma foto de uma pessoa parecida e todo mundo achou que
era ela. Quando ela voltou para o bairro, a cercaram e começaram as
agressões”, explica.
saiba mais
Sobre os agressores, o marido ,Jaílson espera que a polícia identifique os
criminosos por meio dos vários vídeos que foram gravados. “Quero que a
Justiça seja feita. Cabe a polícia investigar. Eu não vi ninguém que eu
conheço batendo nela. Vamos esperar as investigações e, acredito, os
culpados serão punidos”, comenta.
Após as agressões, várias pessoas se revoltaram pelas redes sociais
afirmando que Fabiane é portadora de transtorno bipolar e que jamais fez
mal a crianças. Jaílson confirmou o tratamento e afirma que a esposa
não é agressiva.
O caso também gerou revolta por parte dos amigos de Fabiane. Uma das
vizinhas da vítima, que preferiu não se identificar, diz que nunca viu
nenhum comportamento agressivo por parte da agredida. “Nunca vi ela
agressiva com ninguém, nem com as próprias filhas. As pessoas acreditam
em tudo e acaba acontecendo uma tragédia. Eu não estava lá no momento do
espancamento, mas se estivesse, defenderia ela imediatamente”, diz.
Advogado acusa página de rede social
O advogado da vítima, Airton Cinto, foi até a casa da família neste
domingo (4). Segundo ele, Fabiane é uma dona de casa que tem dois
filhos. O advogado diz que Fabiane estava andando na rua quando começou a
ser agredida. Algumas pessoas teriam visto, na página Guarujá Alerta,
hospedada no Facebook, o retrato falado de uma mulher que estaria
sequestrando crianças em Guarujá e pensaram que se tratava de Fabiane.
“Ela foi espancada porque acharam que ela era uma pessoa de uma foto.
Amarraram ela, arrastaram ela, levaram até o Morrinhos 4 e espancaram
ela violentamente. Deixaram ela no mangue. A Polícia Militar preservou o
corpo achando que ela estava morta”, afirma. Segundo ele, Fabiane não
teve tempo de se defender das acusações e agressões.
O advogado comenta que o autor da página na internet ainda não foi
identificado, mas entende que o site foi responsável pelo crime. “Ele
divulgou que tinha uma mulher que supostamente sequestrava crianças e
criou uma comoção do bairro. Nós vamos responsabilizar o site por isso.
Vamos pedir a quebra do IP. Vou solicitar a prisão temporária dele e de
todos que foram identificados nos vídeos”, garante o advogado.
Airton deve ir até a delegacia na manhã desta segunda-feira (5) para
solicitar os vídeos feitos por moradores no momento das agressões a
Fabiane. “Vamos investigar junto com o delegado. Vou para o hospital e
depois para a delegacia. A situação dela é gravíssima. Foi uma barbárie
cometida por uma injustiça”, lamenta.
Portal G1