quarta-feira, 20 de julho de 2016

VIDA DE POETA














Até onde vou, todo mundo sabe,
vou ver se ainda estou na esquina
antes que essa poesia louca acabe
e eu já não saiba a que ela se destina.

O coração no peito rufa, bate,
escoiceia e vai ao encontro da rima,
como um cão que para a própria cauda late,
e dá voltas, e, em círculos, gira.

Talvez esse lirismo que me invade
e me leva a escrever linha após linha
seja só ego e cúmulo da vaidade.

Pode ser também apenas a idade,
lindezas que o tempo na gente inspira
depois de tanta espera na fila!





antonio thadeu wojciechowsk

sábado, 16 de julho de 2016

Para Ti








Foi para ti 
que desfolhei a chuva 
para ti soltei o perfume da terra 
toquei no nada 
e para ti foi tudo 


Para ti criei todas as palavras 
e todas me faltaram 
no minuto em que talhei 
o sabor do sempre 



Para ti dei voz 
às minhas mãos 
abri os gomos do tempo 
assaltei o mundo 

e pensei que tudo estava em nós 
nesse doce engano 
de tudo sermos donos 
sem nada termos 

simplesmente porque era de noite 
e não dormíamos 
eu descia em teu peito 
para me procurar 

e antes que a escuridão 
nos cingisse a cintura 
ficávamos nos olhos 
vivendo de um só 
amando de uma só vida 

                                                 



Mia Couto,

 "Raiz de Orvalho e Outros Poemas" 





quarta-feira, 13 de julho de 2016

luz aquecendo a brisa quieta





Um pouco mais da brisa quieta




A saudade é um ente
uma força
maré subindo no peito
em doce melancolia



  luz aquecendo
 a brisa quieta
delírios do sol
mar em seresta



deixar que a dor
 de tantos ontems
ilumine a paz
de outros sonhos







DAVI CARTES ALVES











sexta-feira, 8 de julho de 2016

O Eterno Retorno










“Pode ser 
então seja mais
que Pó de ser”


me lembro bem, eu já fui um deus
daqueles que moviam mundos e fundos
bastava rir para ver tudo florir
mas aqueles que eu chamava de meus
aqueles que deveriam ter fé
foram virando as costas
e, sem mais nem menos, me largaram a pé
sem perguntas e sem respostas


eu sabia que a sensação de estar só
como tudo nesse mundo
um belo dia, retornaria ao pó
e assim me tornei um vagabundo
um inútil pária das estrelas
um monumento ao nada que sirva
um sinônimo de ovelha
não de pastor ou cristo ou shiva


o mundo era meu, estava escrito,
no entanto, não tomei posse
e nem deixei o bem dito pelo maldito
mas se a luz é sombra até que se mostre
encontrei no breu o farol da volta
a poesia me pegou na veia
e, com mil poetas como escolta,
voltei à vida com a caneta cheia!





antonio thadeu wojciechowski