domingo, 24 de maio de 2020
quarta-feira, 6 de maio de 2020
O motor da preguiça
Acho que a verdadeira
força motriz do desenvolvimento humano, a razão da superioridade e do sucesso
do Homem, foi a preguiça. A técnica é fruto da preguiça. O que são o
estilingue, a flecha e a lança senão maneiras de não precisar ir lá e esgoelar
a caça ou um semelhante com as mãos, arriscando-se a levar a pior e perder a
viagem? O que estaria pensando o inventor da roda senão no eventual
desenvolvimento da charrete, que, atrelada a um animal menos preguiçoso do que
ele, o levaria a toda parte sem que ele precisasse correr ou caminhar?
Toda a história das telecomunicações, desde os
tambores tribais e seus códigos primitivos até os sinais da TV e a internet, se
deve ao desejo humano de enviar a mensagem em vez de ir entregá-la
pessoalmente. A fome de riqueza e poder do Homem não passa da vontade de poder
mandar os outros fazerem o que ele tem preguiça de fazer, seja de trazer os
seus chinelos ou construir suas pirâmides.
A
química moderna é filha da alquimia, que era a tentativa de ter o ouro sem ter
que procurá-lo, ou trabalhar para merecê-lo. A física e a filosofia são
produtos da contemplação, que é um subproduto da indolência e uma alternativa
para a sesta, A grande arte também se deve à preguiça. Não por acaso, o que é
considerada a maior realização da melhor época da arte ocidental, o teto da
Capela Sistina, foi feita pelo Michelangelo deitado. Marcel Proust escreveu Em busca do tempo perdido deitado. Vá
lá, recostado. As duas maiores invenções contemporâneas, depois do antibiótico
e do microchip, que são a escada rolante e o manobrista, devem sua existência à
preguiça. E nem vamos falar no controle remoto.
(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. O mundo é bárbaro. Rio de Janeiro: Objetiva,
2008, p. 54-55)
domingo, 3 de maio de 2020
Tronco Submerso
Tudo que eu amei estava aqui
Do chão batido a cuia de açaí
Por isso não cantei Copacabana
Ainda que ela fosse tão bacana
No brilho dos postais que eu recebi
Tudo que eu amei estava aqui
Da mão de milho ao pé do Meriti
E assim eu não falei da Torre Eiffel
Dos perfumes de Chanel
Nem no céu azul do Tenesse
Desculpa meu irmão meu canto agreste
Nutrido do jambu que não quiseste
Manchado do tijuco e de capim
Perdoa por favor meu pobre verso
Um tosco tronco submerso
No rio sem nome que se vai de mim
Paulo André e Ruy Barata
Amanhecer não é pouco
Ela jogou o
cabelo para o lado e derrubou dinastias
Depois me
disse sorrindo:
Sabe aquele
trago que odeia um rim feliz?
Fala do Refri
2 L que a gente pede biz?
Não ...
Isadora dizia
que o amor era esse pouco de luz
Brincando
entre as folhas das buganvílias
Noutra manhã
gelada em CWB
De repente o
ano se inundou de tristeza
E seu novo codinome
Paroxítona
terminada em us
Acentua
mesmo?
Coronavírus
Quando a dor
é o refrão do mundo
Amanhecer não
é pouco
Ela me pergunta:
Será que o
seu cão Leléko personifica
a Felicidade
que não existe?
Amanhecer não
é pouco
Quando muitos
não podem dar o ultimo abraço
Sequer um
beijo afetuoso com o olhar
Leléko é
alegria
O refúgio nos
pets,
sim a milenar fidelidade canina
Amanhecer não
é pouco
Resta-nos
fazer da lágrima
Rosa de
cristal
De uma gota
de sangue
Rosa natural
Pois o bonde
da vida já dobrou a esquina
E as plantas
sequer
foram regadas
foto : Lala
sexta-feira, 1 de maio de 2020
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