Brigaram muitas
vezes e muitas vezes se reconciliaram, mas depois de uma discussão
particularmente azeda, ele decidiu: o rompimento agora seria definitivo. Um
anúncio que a deixou desesperada: vamos tentar mais uma vez, só uma vez, implorou,
em prantos. Ele, porém, se mostrou irredutível: entre eles estava tudo acabado.
Se pensava que tal
declaração encerrava o assunto, estava enganado. Ela voltou à carga. E o fez,
naturalmente, através do e-mail. Naturalmente, porque através do e-mail se tinham conhecido, através do e-mail tinham namorado. Ela agora confiava no
poder do correio eletrônico para demovê-lo de seus propósitos. Assim, quando
ele viu, estava com a caixa de entrada entupida de ardentes mensagens de amor.
O que o deixou
furioso. Consultando um amigo, contudo, descobriu que era possível bloquear as
mensagens de remetentes incômodos. Com uns poucos cliques resolveu o assunto.
Naquela mesma
noite o telefone tocou e era ela. Nem se dignou a ouvi-la: desligou
imediatamente. Ela ainda repetiu a manobra umas três ou quatro vezes.
Esgotada a fase
eletrônica, começaram as cartas. Três ou quatro por dia, em grossos envelopes.
Que ele nem abria. Esperava juntar vinte, trinta, colocava todas em um envelope
e mandava de volta para ela.
Mas se pensou que
ela tinha desistido, estava enganado. Uma manhã acordou com batidinhas na
janela do apartamento. Era um pombo-correio, trazendo numa das patas uma
mensagem.
Não teve dúvidas:
agarrou-o, aparou-lhe as asas. Pombo, sim. Correio, não mais.
E pronto, não
havia mais opções para a coitada. Aparentemente chegara o momento de gozar seu
triunfo; mas então, e para seu espanto, notou que sentia falta dela. Mandou-lhe
um e-mail, e depois outro,
e outro: ela não respondeu. E não atendia ao telefone. E devolveu as cartas
dele.
Agora ele passa os
dias na janela, contemplando a distância o bairro onde ela mora. Espera que
dali venha algum tipo de mensagem. Sinais de fumaça, talvez.
(Adaptado
de: SCLIAR, Moacyr. O imaginário
cotidiano. São Paulo: Global, 2013, p. 71-72)