quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Mandarim - Eça de Queiroz



 A Narrativa de o Mandarim inicia-se em Portugal, mas grande parte do espaço concentra-se na China. Como este espaço é trabalhado em relação ao mundo ocidental? Como o personagem se posiciona?

" No fundo da China existe um mandarim mais rico que todos os reis de que a fábula ou a história contam. Dele nada conheces, nem o nome, nem o semblante, nem a seda de que se veste. Para que tu herdes os seus cabedais infindáveis, basta que toques essa campainha, posta a teu lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses confins da Mongólia. Será então um cadáver: e tu verás a teus pés mais ouro do que pode sonhar a ambição de um avaro. Tu, que me lês e és um homem mortal, tocarás tu a campainha?"

Eça de Queiroz nos apresenta com muita originalidade através de seu narrador, o contraste marcante entre as culturas ocidentais e orientais, quer quanto a filosofia de vida, quer na vestimenta, quer na religião, quer nos hábitos e cotidianos.

Confrontando pretensiosa ou despretensiosamente, por um lado o peso, o consumismo e a concretude do ocidente, ao passo que por outro lado, descreve a leveza, a reclusão e a espiritualidade do oriente.

Atravéz de uma linguagem apurada, de imagens belas e marcantes, podemos sentir e nos encantar , envolver-nos com aromas e texturas da singular e exótica cultura chinesa e percebemos como o narrador em certos momentos posiciona-se com respeito e reverência a todo o belo e diverso mosaico oriental que deslumbra seus olhos e sentidos, em declarações como:

“ viajar pelos céus como os deuses, sobre os fofos coxins das nuvens” pág, 48

“ A vida é um bem supremo: porque o encanto dela reside no seu principio mesmo, e não na abundancia das suas manifestações” Pág. 55

“ E que sensação , sensação comparada a paz pertinente de uma velha cerca de mosteiro, na quebrada de um vale, por um fim suave da tarde, ouvindo o correr da água triste” pág, 58

“ as manhãs de fim de agosto são muito suaves, já erra no ar um estremecimento outonal ” 67

“ anjos louros que conservam nos olhos azuis, o reflexo dos céus atravessados ” pág 72

“ Usufrui a paz severa feita das simplicidades das ocupações, do ar pastoril da colina, dos hábitos de estudo, (...) a roldana dum poço rangia lentamente”
Pág 77
Notamos que muitos elementos do grande cesto das virtudes espirituais do oriente cativam nosso narrador, tanto da singular indumentária do povo, quanto o ritual milenar e sagrado do chá, note outra evidência que sublinha isso no trecho a seguir:

““ ouvindo máximas prudentes e suaves que escorriam como um aroma fino de chá, dos lábios de um Buda vivo” Pág, 86

O Paradoxo do Mandarim

Apesar deste apelo espiritual e de uma leveza sagrada como notamos nas declarações extraídas de trechos do livro, não podemos deixar de destacar , até mesmo pela descrição que o narrador faz do espaço, confrontando também luxo e miséria, que a ganância o dinheiro a hipocrisia, também descortinadas nesta novela, borram as fronteiras tão bem demarcadas entre oriente e ocidente

O chamado Paradoxo de Mandarim, traz a tona elementos de uma realidade atual. Ocasião do principio do século 19, em que François-René de Chateaubriand criara o "paradoxo do mandarim", que serviu de inspiração para o escritor luso.

É um problema nada aristocrático, perfeitamente burguês e bem hipócrita: o dos limites morais do dinheiro. A ele se acrescenta um corolário virtuoso, que em síntese pode ser enfatizado assim:

Fortuna mal adquirida traz consigo seu castigo.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

O Mandarim QUEIROZ Eça de - Editora Escala – Rio de JANEIRO

Folha de São Paulo , Caderno Ilustrada , 25 de Abril 2010


Parte de um trabalho para o Curso de Letras


by   DAVI CARTES ALVES

Nenhum comentário: