Olhada em conjunto, a obra de Jorge Amado nos parece
bastante una, caracterizada por um grande entrosamento das
suas partes. Os livros do autor nascem uns dos outros, germinam
de sementes lançadas anteriormente, sementes que às
vezes permanecem muito tempo em latência.
O número dos seus temas é pequeno; daí a concatenação
dos seus livros. E daí, também, a sua superioridade, uma
vez que, deste modo, podem se apresentar num sistema vigoroso.
A limitação em número dos temas é a condição do desenvolvimento
evolutivo do autor. Desenvolvimento que se faz
seguro, num retomar constante e sucessivo de temas anteriores.
A sua consciência faz poucas constatações, mas profundas
e definitivas. Elas se impõem dentro do espírito do autor
que as vai amadurecendo, elaborando, enriquecendo.
Dos meninos vadios de Jubiabá, nascem e crescem os
Capitães da Areia, e dos seus
saveiros, do oceano, nasce Mar
Morto. O cacau, lançado no romance deste nome,
fica latente
muitos anos. Aparece de modo fugaz em Capitães da Areia, e
se expande em Terras do
sem fim. “Diário
de um negro em
fuga”, de Jubiabá, apresenta a vida dos trabalhadores do fumo,
irmãos dos de cacau.
Encarados do ângulo do documentário, os seus romances
sempre constituem uma informação. Informação de níveis
de vida, de ofícios, de miséria, de luta econômica. Do ângulo
poético, por meio dos ambientes o documento adquire realce e
força sugestiva.
São certas constantes
cênicas e sentimentais –
como o mar, a noite, a floresta, o vento, o amor.
Constantes que
obsedam Jorge Amado.
Água, mato, noite, vento. Graças a esses temas, Jorge
Amado inscreve a sua obra no mundo, dando-lhe um sentido
telúrico. Mas, dominando-os, se instala o tema humano do
amor, que paira sobre eles.
(Adaptado de: Antonio Candido.
Poesia, documento e história
Brigada Ligeira. São Paulo, Ouro sobre azul)
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