quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Inventar luzes





                                                                                                           Munch






Quem vive no escuro inventa luzes.








Mia Couto 


No livro "A Confissão da leoa"








sábado, 19 de setembro de 2015

Substituirás a primavera?












Quem será tão forte
para resistir a tanto encanto?
Mais bela que a lua
com as tuas cores
e as tuas texturas
substituirás a primavera?



Saudade






sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Anjos e Sereias














Indiferente ao rochedo frio, há horas recolheu-se na Pedra do Albatroz. Sentou-se naquela posição que lhe era peculiar, abraçando os joelhos, a cabeça baixa, taciturna.

Não observa bem acima, os rabiscos que as gaivotas fazem em um céu de amianto. Não quer encarar o farol, quieto e soturno, como um gigante leve, irmão dos pássaros e das vagas, cativando os silêncios d’alma.

Não quer reparar no vento penteando com força as crespas folhas de pequenas moitas valentes. Mais abaixo, as ondas oferecem, lânguidamente, níveas colchas de alfenim aos pés do rochedo ríspido e imberbe.

De repente, abre olhos e os sentidos já estão envolvidos em um canto sedutor. Ergue a pesada cabeça, levanta-se atônito enfrentando camadas e camadas de carícias da cantilena que vem do mar e o alicia perturbadoramente.

Ensaia os primeiros passos descendo rumo ao imenso colchão de espuma, os olhos já enamorados, a alma derramando-se no balé das vagas, absorta em um brechó de intensas sensações e prazeres inefáveis.

A vista cambiante perde-se no elo sempiterno entre mar e firmamento. É doce e feiticeiro o realejo à maresia.

Súbito, anjos irrompem a abóbada de amianto.

Entre atentos e pressurosos, acompanham o canto em segunda voz em meio a miríades de sereias.


 O pescador sente como se lhe imprimissem n’alma uma primeira demão dos sentidos que retornam.

Olhos cansados. Cílios beijam-se suavemente. Enxuga as lágrimas e, faminto, recolhe os apetrechos.

Tempo de retornar à casa.








   




   DAVI CARTES ALVES











quarta-feira, 9 de setembro de 2015

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Mia Couto - Contos do Nascer da Terra









" Lhe apetecia um beijo, 
água fazendo crescer outra água na boca,
 Lhe apetecia
 como um cacto 
sonha a nuvem.


 Como a ostra
 ela morria em segredo.
como a pérola
 seu sonho 
se fabricava nos recônditos "


" Você é como o nariz, 
toda vida no meio,
sem nunca fazer escolhas " 







sábado, 5 de setembro de 2015

Não o pode o saber...








O que pode o sentimento 
não o pode o saber
Nem o mais claro proceder, 
nem o maior dos pensamentos
(...)
Só o amor com sua ciência
 nos torna tão inocentes
 
 
 
 
 
 Mercedes Sosa
 
 
 
 
 
 
 

Caçador de Mim













Por tanto amor
Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu, caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim






Milton Nascimento


   



 

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Sob as nuvens de Ascalom








Só você tem esse dom 
de dizer em terra,
doçuras e delícias de um céu
que se usufrui deslumbrado
na maciez de uns olhos fagueiros

nesta doce intimidade solar
trazendo nas suas asas de amor
a suave calmaria do mar

e a lembrança dos teus doces abraços
leveza que me envolve em asas mansas
de pássaros apaixonados
declamando ao lusco-fusco
amores e dissabores

contemplados da triste janela
derramam num vôo brando
slides dos teus sorrisos
quais brisas de mil paraísos

colhidos num carinho ausente
e a sensação tépida e premente
que a picada da mutuca úmida
dói mais a dorida dor
sem os desvelos do teu amor

seus lábios tão lírios
quão líricos
teus braços tão cisnes de amor
tua alma quão lua,
tão sua
você meu mar jovem em flor

hoje minhas borboletas tagarelas
sonharam novamente contigo
e acordaram cochichando em rubor
que só mesmo dos teus beijos maviosos
flui o mel do paraíso.





  DAVI CARTES ALVES








Envolva a sua alma nesta doçura











 




 






quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Paloma y laurel





 Resultado de imagem para sopros andinos zampoña).



Una palomita
llegó herida hasta los valles.
Pecho colorado
como brasita del aire.
Lágrima del día,
el rocío le junté.
Bebió de mi mano
gotas de rocío y miel.

Debes volar,
debes volver
al nido tibio
del atardecer.
En el nidal
me gusta ver
sobre la tarde
paloma y laurel.

Palomita herida
yo te quiero ver volando,
desde mi ventana
sobre la rama del árbol.
Valle sin paloma
no podrá reverdecer.
Dónde irá el palomo
sin palomas a padecer?

Debes volar,
debes volver
al nido tibio
del atardecer.
En el nidal
me gusta ver
sobre la tarde
paloma y laurel.

Paloma y laurel


(
Autores da letra -Armando Tejada Gómez - César Isella



Cantada mui belamente pelo grupo
Vientosur - na foto







Resultado de imagem para vientosur
/Discos.











terça-feira, 1 de setembro de 2015

Eu te amo











  



Amar-te é sublime
é sentir a alma agasalhar-se
entre os casulos
da brisa primaveril.

tua alma traz a musica do mar,
marulhar no teu doce realejo
no frescor dos teu abraços,
balbucio, deliro,
versejo

passar por esse mundo
e não ter o privilégio
de contemplar sua graciosidade
beleza , encanto e fascínio

é o mesmo que
usufruir um dia inteiro
de céu matizado em límpido azul
mas sem o sol, radiante e vital
que assim como você,
quando surge, acende n’alma
um sorriso de vida e luz

Sob maga suavidade,
Irradias, efluvios melifluos
de graça, beleza, charme
e tens consigo a magia de fascinar tudo
quanto a rodeia
contemplá-la é viver,
é o quanto basta para edenizar
uma vida

um carisma, um sorriso, uma flor
que não se sabe a razão,
diminui n’alma o peso,
renova-se a legria,
me faz sublevar, na suavidade
de toque entre cílios

me faz peregrino embevecido,
de seus sonhos multicolor
andarilho apaixonado, errante
de suas vielas irísadas.

experimentei a sublime sensação
de sua alma feita de flores em lava
sonhava ao abrir nas suas costas
os botões nacarados, um a um
quando duas grandes asas
de cãndido e diáfano azul claro
brotaram suavemente
de sua pele melíflua
embebida em caldo de luar
és anjo meu

O que continuará a existir sem você?
Pois quando o amor, generoso
derrama-se dos seus lábios sobre nós,
ele produz n’alma, o sublime frescor
de um novo
e orvalhado amanhecer

De onde vem essa força enigmática
Que arrebata, asfixia, fascina ?
Será dos fundos das cóvinhas de nacar
esculpida neste rostinho feiticeiro
por esse sorriso de diamantes de neve?

Sorriso?
Ou um diamante que brilha?
O céu que se anila?
Faz lembrar
a primeira estrela que cintila
n’alma

Com saudades, lembrei-me
dos teus afagos
doces canções de ninar
e quase sem perceber, peguei no...
choro

Será que há mais mel
no bojo da acácia
quanto na terna mansuetude
de seus belos olhos???

Será que há mais
delicadeza & sensualidade
nas curvas da tulipa escarlate
quanto na leveza sinuosa
de seu lindo talhe
coleante de prazeres???

Que tal este presente amor meu:
A lua me sugeriu
um vestido de néon
o céu, uma tiara de estrelas
o mar, um multicolorido top
de conchas e corais

Afinal quem é você?
Que com suas palavras
me fazcorrer com a alma de joelhos
em busca dos teus mistérios
como os guinus no Kalahari
fogem das intempéries
em busca de refúgio

em meio aos teus lábios & versos
me sinto flutuar em espiral
na cadência de milhares de arraias
dentro de um balé divinal

linda ninfa
ficas ainda mais bela
de sobretudo caramelo
os anéis de seus cabelos me anelam
ao roubarem beijos dos seus lábios de mel
como travessos colibris.

meus cílios
quando tocam com os seus
eis beijo vertiginoso, mavioso
do amor o apogeu,
sina de Orfeu?

Em seus lábios onde o amor viceja
coração ferido de morte, verseja
lábios de mar sedento, esses seus
saciando a sede dos meus

acaricia nossos corpos
o resto da onda preguiçosa
envolvendo-nos
como uma alva colcha dengosa

manta serena
sob caldo de luar
doces beijos de mar,
num que de ofertar

nosso céu marchetado
por revoadas, albatrozes?
Andorinhas rasantes,
pelicanos amantes
na lembrança perene
cenários paradisíacos de amor
pintados em casquinhas de nozes

nos teus braços
renascer em uma fonte
de generosa doçura
cárcere paradisíaco
quais flamingos alados
em ternura

E quando rompem
teus exércitos sublimes?
derramando dos teus olhos
nevados em mel
o amor em corcéis de volúpias

velozes, vorazes,
sagazes, atrozes
recamando de brasas famintas,
meu céu

sobrepujam-me
teus exércitos de novo
alvejando-me
com teu Sol de delicias
com tépidos feitiços
e felinas caricias

pousando tuas sedas
meneios, perfumes,
eu sorvo a vertigem
nas tuas maviosas veredas

vem teus exércitos sublimes
em coleante poesia de rendas sutis
sonetos entremeados num belo corpete
bucólicos haicais
em melífluo corselet

vem teus exércitos
faz-me teu despojo de cruel diversão
novelo estapeado pela pata felina
a rolar pelo chão

flor de tiara,
teu estojo de strass
fulminas uma e mil vezes
zás trás!!!

Sopra minha queda
como em bolinhas de sabão
faz-me mais um subjugado prisioneiro
do seu vasto império
de fascínio, encanto, graciosidade
e sedução

caem sobre mim teus exércitos de novo
receber teus abraços confeitos
na louçania de buganvílias perfumadas
enternecidas, lagrimadas
pelas renovadas manhãs

sem dor, em ardor
quão dóceis e enamoradas
teus exércitos em flor

enlear-se na ternura
das tuas mil vozes macias
o verbo amar sussurras
dos teus poros, balbucias

e vem sobre mim
teus exércitos de novo!
Vem !!!

Ah! Sua presença!
Quão maviosa!
Chegar assim
nesta doce intimidade solar
trazendo nas suas asas de amor
a fagueira calmaria do mar

como derramas n’alma
sob densas matizes
sua generosa cesta de cores.
És tão leve, tão luz, quão linda!
a pousar e repousar teus afetos
sobre os meus mais tênues sensores

faz-se toque entre cílios
feixe de gérberas
caldo de luar
reinventa num sopro melífluo
novas nuances para o verbo amar

faz-se beijo de brisa
cantinela de riachos
langoroso esvair-se da onda na areia
num que de ofertar

faz dos teus mansos fulgores
em minhalma,
um perene palpitar.

Afinal quem é você?
que com os teus deleites
faz até mesmo
anjos & diamantes luminosos
anoitecerem?

Em meio aos teus lábios & versos
me sinto flutuar em espiral
na cadência de milhares de arraias
dentro de um balé vertiginoso,
divinal

Em você
como nas mais raras e belas flores
só devem pousar borboletas
com multicoloridas asas de seda
e delicadas anteninhas de ouro

chego como pedra fria
mas no leito dos teus braços e abraços
acordo dunas
areia clara, macia

São as luzes das rosas
que iluminam tua alma?
Tormentas raivosas recuam
ao teu pedido de calma

Tu me fez ver na queda
suave passo de dança
fez da tola ambição
e da nociva prepotência
ternura pura de criança



saudade