sábado, 24 de setembro de 2016

Primavera












Coração palpita,
sob neon vermelho no peito
nas margens dos seus rios suaves
minha bateia alquebrada
garimpa sua imagem
entre diamantes escarlates

na paleta d’alma
encheram-se os bojos ressequidos
                                  de cores luminosas                                 

da caixinha de lápis de cor
saem em deliciosas revoadas
milhares de borboletas
em nuances maviosas

finalmente
vincaram riscos de veludo
com cores de uma nova aurora
nos botões das flores do campo

teu  sopro de arco-íris
banha a alma
em puro jubilo primaveril

e como me sinto bem
ao ver você tão feliz
com sua alma entre flores
  neste eterno riso pueril!






DAVI CARTES ALVES









terça-feira, 20 de setembro de 2016

Uma nuvem em seu desleixo de brancura










Guardo memória
de paisagens espraiadas
e de escarpas em voo rasante


E sinto em meus pés
o consolo de um pouso soberano
na mais alta copa da floresta.


Liga-me à terra
uma nuvem e seu desleixo 
de brancura


Vivo a golpes
com coração de asa
e tombo como um relâmpago
faminto de terra


Guardo a pluma
que resta dentro do peito
como um homem guarda o seu nome
no travesseiro do tempo.

Em alguma ave fui vida.




© MIA COUTO
 
Em :  Idades Cidades Divindades, 2007






domingo, 18 de setembro de 2016

Slides de um sorriso










Meus olhos de concupiscência
maculam tua pureza
ferem tua leveza
de fina flor de estufa

de rara borboleta
banhada em cores e luz
e sempre tão suave
como um beijo matinal

sorriso que me acabo
ao léu do teu descaso
lembrança de tortura
elegia de amargura
não vou passar além


manhã de primavera
sem flor, sem aquarela
teus beijos esfarelas
nos céus do meu olhar


e o  fim da tarde nublada
a lembrança da praia vazia
o vento penteando
pequenas moitas valentes
na areia alva e macia



a debandada dos albatrozes
levando aquelas imagens
trazendo outras paisagens
evanescentes de amor


o céu a revolver-se
com slides de um sorriso
quais brisas
de mil paraísos






DAVI CARTES ALVES









Malabarismo




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Se eu tivesse nascido no circo,
não me machucaria este siso,
doendo agudo na alma
Desprezaria a abstrata
necessidade de dar certo
na vida e não faria nada

Aprenderia a domar pulgas, engolir fogo,
adestrar poodles, fazer contorcionismo
Dependuraria os sonhos no mais alto trapézio,
enfiaria o tédio na jaula dos ursos

Usaria minhas habilidades
para equilibrar facas na língua
ou entreter o público

Se eu tivesse nascido no circo,
não teria desejos imediatos
 ou deveres inadiáveis
Deixaria cada coisa
 entregue a seu destino



Kátia Borges








(BORGES, Kátia.Malabarismo. In: SOUZA, Adelice (et.
al.). Autores baianos: um panorama. Salvador: P55 Edições,
2013. p. 75. Disponível em:
ral.ba.gov.br>. Acesso em: 08/10/2013)





A Obra de Jorge Amado





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Olhada em conjunto, a obra de Jorge Amado nos parece
bastante una, caracterizada por um grande entrosamento das
suas partes. Os livros do autor nascem uns dos outros, germinam
de sementes lançadas anteriormente, sementes que às
vezes permanecem muito tempo em latência.

O número dos seus temas é pequeno; daí a concatenação
dos seus livros. E daí, também, a sua superioridade, uma
vez que, deste modo, podem se apresentar num sistema vigoroso.
A limitação em número dos temas é a condição do desenvolvimento
evolutivo do autor. Desenvolvimento que se faz
seguro, num retomar constante e sucessivo de temas anteriores.

A sua consciência faz poucas constatações, mas profundas
e definitivas. Elas se impõem dentro do espírito do autor
que as vai amadurecendo, elaborando, enriquecendo.

Dos meninos vadios de Jubiabá, nascem e crescem os
Capitães da Areia, e dos seus saveiros, do oceano, nasce Mar
Morto. O cacau, lançado no romance deste nome, fica latente
muitos anos. Aparece de modo fugaz em Capitães da Areia, e
se expande em Terras do sem fim. “Diário de um negro em
fuga”, de Jubiabá, apresenta a vida dos trabalhadores do fumo,
irmãos dos de cacau.

Encarados do ângulo do documentário, os seus romances
sempre constituem uma informação. Informação de níveis
de vida, de ofícios, de miséria, de luta econômica. Do ângulo
poético, por meio dos ambientes o documento adquire realce e
força sugestiva.

 São certas constantes cênicas e sentimentais –
como o mar, a noite, a floresta, o vento, o amor.

 Constantes que
obsedam Jorge Amado.
Água, mato, noite, vento. Graças a esses temas, Jorge
Amado inscreve a sua obra no mundo, dando-lhe um sentido
telúrico. Mas, dominando-os, se instala o tema humano do
amor, que paira sobre eles.






(Adaptado de: Antonio Candido. 
Poesia, documento e história 
Brigada Ligeira. São Paulo, Ouro sobre azul)










quinta-feira, 15 de setembro de 2016

TIM-TIM À BEIRA DO ABISMO










Vaga esta escuna, vago verso
a não significar mais que o mastro
Bem longe, afunda o ígneo astro
sereias áureas rugem ao reverso

Naveguemos, ó, meus eternos irmãos!

 Eu, de vento em popa,
vocês, em festa, não deem sopa
à onda que deriva dos infernos

Minha loucura fala mais alto
Sem temer o mar, tomo de assalto
para fazer aos céus esta oferenda

- Calmaria, recifes, constelações,
nada espero ao final da senda
salvo o tam-tam de nossos corações!







Mallarmé


Por Antonio Thadeu Wojciechowski e Roberto Prado









Borrada de noites, a dúvida tem um fim medonho














de barriga cheia, cochilo em cheio.
Durmossonho ?

Borrada de noites, a dúvida tem um fim medonho

Fauno, aqueles velhos olhos azuis em águas
afluem da fonte de lágrimas represadas.
Bendito bafo na nuca por outra das fadas,
este mormaço prevê bons dias por bons tempos.
Pura ilusão!?
 A manhã abana seu calor com ventos...






Mallarmé 

por  Antonio Thadeu Wojciechowski







segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Sob o balé da brisa











Sob o balé da brisa
afagos no vôo do condor
em meio a dança das arraias
um novo poema
para um grande amor

Ouço o teu sussurro
em meio as borboletas
entre elas, tu se faz fada,
musa, ninfa
e tento compor
teus lindos mosaicos
com o cinzel das letras

Sinto o teu perfume
entre as azaleias,
a maciez da tua pele,
nas pétalas sedosas, me engolfar
como em um lírico
mar de ninfeias

Tu és flor graciosa,
em haste delicada,
suave, formosa

flutuas com a brisa
e teu sorriso de ternuras,
criva-lhe n'alma
vertiginosos espinhos de bálsamo,
qual nívea rosa dengosa.






DAVI CARTES ALVES





domingo, 4 de setembro de 2016

A florada das azaléias












Sim, são elas que vem surgindo

são elas que vem sorrindo

quão radiantes as azaleias



jorrando entre parques e praças

as cores do amor eterno

marcando toda cidade

com o batom adocicado

dos seus beijos rosa pink



seduzindo os ipês dourados

arrebatando os enamorados

pincelando nos descorados
o tom dos apaixonados



É sempre assim em Curitiba,

julho, agosto, setembro

quando polvilham

de sublimes matizes
as ruas, residências, bosques

praças,

 terminais & marquises


ofertando tão generosas

uma festa para os olhos tristes

 poesia para os sentidos

desafiando nossas manhãs de frio

e perfumando as nossas vidas

com regozijo primaveril









DAVI CARTES ALVES