sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

os campos de begônia floresciam...






 






Quando ele partiu, a primavera galopava nos rosais e os campos de begônia floresciam. Quando ele voltou, a moça do portão estava casada. O prefeito era uma cruz e uma placa. As aves haviam mudado de itinerário como os ônibus. O irmão mais moço tomava ópio para esquecer. O empregado da esquina respondia a um processo onde perdeu a esperança e os dedos. O pai fuzilara um estudante. A mãe fugira com um mascate!... Quando ele partiu, a primavera galopava nos rosais. Quando ele voltou, o céu era só um galope amarelo.







Autor: Florisvaldo Mattos













segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Anjos e sereias














Indiferente ao rochedo frio, há horas recolheu-se na Pedra do Albatroz. Sentou-se naquela posição que lhe era peculiar, abraçando os joelhos, a cabeça baixa, taciturna.

Não observa bem acima, os rabiscos que as gaivotas fazem em um céu de amianto. Não quer encarar o farol, quieto e soturno, como um gigante leve, irmão dos pássaros e das vagas, cativando os silêncios d’alma.

Não quer reparar no vento penteando com força as crespas folhas de pequenas moitas valentes.Mais abaixo, as ondas oferecem, languidamente, níveas colchas de alfenim aos pés do rochedo ríspido e imberbe.

De repente, abre olhos e os sentidos já estão envolvidos em um canto sedutor. Ergue a pesada cabeça, levanta-se atônito enfrentando camadas e camadas de carícias da cantilena que vem do mar e o alicia perturbadoramente.

Ensaia os primeiros passos descendo rumo ao imenso colchão de espuma, os olhos já enamorados, a alma derramando-se no balé das vagas, absorta em um brechó de sensações e prazeres inefáveis.

A vista cambiante perde-se no elo sempiterno entre mar e firmamento. É doce e feiticeiro o realejo à maresia.

Súbito, anjos irrompem a abóbada de amianto.

Entre atentos e pressurosos, acompanham o canto em segunda voz em meio a miríades de sereias.


 O pescador sente como se lhe imprimissem n’alma uma primeira demão dos sentidos que retornam.

Olhos cansados. Cílios beijam-se suavemente. Enxuga as lágrimas e, faminto, recolhe os apetrechos.

Tempo de retornar à casa. 




   
  





DAVI CARTES ALVES





 


sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Padrão





Resultado de imagem para canoas na areia




O esforço é grande e o homem é pequeno
eu, Diogo Cão, navegador, deixei
este padrão ao pé do areal moreno
  e para diante naveguei 


A alma é divina e a obra é imperfeita
este padrão sinala ao vento e aos céus
que, da obra ousada, é minha a parte feita:
  o por-fazer 
é só com Deus

 E ao imenso e possível oceano
 ensinam estas Quinas, que aqui vês,
que o mar com fim será grego ou romano:

 o mar sem fim é português

E a Cruz ao alto 

diz que o que me há na alma 
e faz a febre em mim de navegar 
só encontrará de Deus na eterna calma
 o porto sempre por achar






Fernando Pessoa 












quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Proparoxítona










Uma palavra diz-se proparoxítona quando tem o acento predominante,  sílaba tônica na antepenúltima sílaba. Esdrúxulo é sinônimo de proparoxítona.

Toda palavra proparoxítona é acentuada, 
mas nem toda palavra acentuada é proparoxítona. 




Outros exemplos,  poéticos



Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado



Chico Buarque 





Não te demores












quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Para crianças e adultos :)






 



Quem batuca bate, bate
Faz a batucada cada vez que bate, bate sem parar
Batuca o tambor, batuca


Quem se mexe dança, dança cada vez seu passo
Ganha mais espaço quando sai do chão
Dançando no ar, dançando


Músicos e dançarinos são grandes amigos
Que desde criança sabem se virar
Soltando o que der, soltando


Músicos e dançarinos
Minas e meninos
 com seus instrumentos que sabem dançar
Pra lá e pra cá, gingando


Olha uma pipa no ar
Quem vai com ela dançar


Pula pra frente
Pula pra traz
Rebola bola
Tatu bolinha
Uma formiga
Uma aranha
Anda aranha
Bumbum no chão,
Sem as mãos, sem os pés


Quem batuca bate, bate
Faz a batucada cada vez que bate, 
bate sem parar
Batuca o tambor, batuca


Quem se mexe dança, dança cada vez seu passo
Ganha mais espaço quando sai do chão
Dançando no ar, dançando


Músicos e dançarinos são grandes amigos
Que desde criança sabem se virar
Soltando o que der, soltando


Músicos e dançarinos
Minas e meninos com seus instrumentos
 que sabem dançar
Pra lá e pra cá, gingando


Olha uma pena no ar
Quem vai com ela dançar


Pula pra frente
Pula pra traz
Rebola bola
Tatu bolinha
Uma formiga
Uma aranha
Anda aranha
Bumbum no chão,
Sem as mãos, sem os pés





Músicos e Dançarinos





Nuvens enchidas de saudades















Realmente
algumas lembranças
são vestígios
de lágrimas


E nos sonhos
quando choramos
as lágrimas só caem
no dia seguinte
com as pétalas feridas


num que de horas
que se ama mais
de olhar paras nuvens
enchidas de saudades
querendo aplausos
para os dramas que encenam
dos homens


esquecer
pois o amor só chega na hora certa
não é bom encontrá-lo
nem muito antes
nem muito depois

e voar batendo asas 
em vertigem
feito pássaro sem pés
que não consegue pousar
dos céus dos teus encantos


colher as pétalas
que caem das palavras
vislumbre de eternidade
no suave toque entre cílios


 "eu acho suas asas incoerentes
    com as algemas que você carrega"

do amor.









DAVI CARTES ALVES











quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Coração de estudante





 








Quero falar de uma coisa
adivinha onde ela anda?
deve estar dentro do peito
ou caminha pelo ar

 
pode estar aqui do lado
bem mais perto que pensamos
a folha da juventude
é o nome certo desse amor


(...)
Coração de estudante
há que se cuidar da vida
há que se cuidar do mundo
tomar conta da amizade
  


alegria e muito sonho
espalhados no caminho
verde: plantas e sentimento
folhas, coração, juventude e fé.

  



MILTON NASCIMENTO E WAGNER TISO