quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Lira do amor romântico - Carlos Drummond de Andrade








Lira do amor romântico
Ou a eterna repetição

Atirei um limão n’água
e fiquei vendo na margem
 Os peixinhos responderam:
Quem tem amor tem coragem.

Atirei um limão n’água
e caiu enviesado.
Ouvi um peixe dizer:
Melhor é o beijo roubado

Atirei um limão n’água,
como faço todo ano.
Senti que os peixes diziam:
Todo amor vive de engano.

Atirei um limão n’água,
como um vidro de perfume.
Em coro os peixes disseram:
Joga fora teu ciúme.

Atirei um limão n’água
mas perdi a direção.
Os peixes, rindo, notaram:
Quanto dói uma paixão!

Atirei um limão n’água,
ele afundou um barquinho.
Não se espantaram os peixes:
faltava-me o teu carinho.

Atirei um limão n’água,
o rio logo amargou.
Os peixinhos repetiram:
É dor de quem muito amou.

Atirei um limão n’água,
o rio ficou vermelho
e cada peixinho viu
meu coração num espelho.

Atirei um limão n’água
mas depois me arrependi.
Cada peixinho assustado
me lembra o que já sofri.

Atirei um limão n’água,
antes não tivesse feito.
Os peixinhos me acusaram
de amar com falta de jeito.

Atirei um limão n’água,
fez-se logo um burburinho.
Nenhum peixe me avisou
da pedra no meu caminho.

Atirei um limão n’água,
de tão baixo ele boiou.
Comenta o peixe mais velho:
Infeliz quem não amou.

Atirei um limão n’água,
antes atirasse a vida.
Iria viver com os peixes
a minh’alma dolorida.

Atirei um limão n’água,
pedindo à água que o arraste.
Até os peixes choraram
porque tu me abandonaste.

Atirei um limão n’água.
Foi tamanho o rebuliço
que os peixinhos protestaram:
Se é amor, deixa disso.

Atirei um limão n’água,
não fez o menor ruído.
Se os peixes nada disseram,
tu me terás esquecido?

Atirei um limão n’água,
caiu certeiro: zás-trás.
Bem me avisou um peixinho:
Fui passado pra trás.

Atirei um limão n’água,
de clara ficou escura.
Até os peixes já sabem:
você não ama: tortura.

Atirei um limão n’água
e caí n’água também,
pois os peixes me avisaram,
que lá estava meu bem.

Atirei um limão n’água,
foi levado na corrente.
Senti que os peixes diziam:
Hás de amar eternamente.





Carlos Drummond de Andrade





sábado, 25 de agosto de 2012

Mar dourado







Os passos entre pássaros

coreografando

sensações & vertigens

como se alguém 

do lado de fora

do sonho

de repente

acelerasse o carrossel



mas ela continuava

carregando as dores do mundo

numa padiola

suave & carmim



que possui nas rodas

a música das brisas

quando sopram entre

 vastas

plantações de girassois



então

ela ia despertando

soltando-se, colorindo-se

numa dança onírica


em meio a um ballet

luminoso

naquele lindo mar de vagas

douradas






DAVI CARTES ALVES






quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Edgar Allan Poe








Nasceu em 19 de janeiro de 1809 em Boston e faleceu em 7 de outubro de 1849 em Baltimore. Poe foi precursor da literatura de ficção cientifica e fantástica no cenário literário, para muitos é considerado o marco inicial da literatura norte-americana. Poe foi filho do ator David Poe Jr. e de Elizabeth Arnold Hopkins, ambos faleceram quando Poe ainda era criança. Após isso Poe é adotado por Francis Allan e o seu marido John Allan que apesar de não adotá-lo legalmente lhe deram o sobrenome Allan.

 Poe teve a vida marcada por desentendimentos com seu pai adotivo. Desde a juventude, já era uma pessoa boêmia inclinada ao vício da bebida e do jogo, o que lhe causava grandes problemas familiares e acabou por romper definitivamente os laços que o uniam ao pai depois da morte de sua mãe.


Sem a ajuda de Jonh Allan, Poe passa por dificuldades e precisa mudar-se para Baltimore para ir morar com sua tia Maria Clemm, ali Poe produziu textos de ficção e se tornou editor do jornal Sothern Literary Messenger e em 1836 casa-se com sua prima Virginia Clemm de apenas 13 anos.


Em 1838 Poe se muda para Filadelfia onde produz alguns livros, artigos, historias e criticas e se torna editor assistente da Burton's Gentleman's Magazine. Pouco tempo depois a esposa de Poe começa a sofrer de tuberculose o que acaba por abalá-lo muito e levá-lo ao consumo excessivo de alcool, em 1847 Virginia morre e mais intensamente o alcoolismo se torna seu pior inimigo e provavelmente a causa de sua morte prematura.


No dia 3 de outubro de 1849, Poe foi encontrado em frente a uma taberna em estado decadente e levado a um hospital onde veio a falecer quatro dias depois. A causa de sua morte não foi descoberta, algumas hipóteses são levantadas como a embriaguez, diabetes, sífilis, raiva ou doenças cerebrais grave. Suas últimas palavras teriam sido: “It’s all over now: write Eddy is no more” em português: “Está tudo acabado: escrevam Eddy já não existe.”


A obra de Poe foi adversa ao estilo literário dominante da época: o romantismo. O romantismo surge nos Estados Unidos entre meados do século XVIII e XIX e tem como características a exaltação dos sentimentos pessoais, a razão substituída pela emoção e o sentimento, a descoberta da subjetividade, a fuga do mundo real para um mundo de sonhos.


Em contra mão a esse movimento Edgar Allan Poe aparece com temas macabros e personagens obsessivos e derrotados por seu próprio terror psicológico. Poe escreveu novelas, poemas, criticas literárias, mas o gênero literário em que mais se destacou foi nos contos sendo considerado, inclusive, o criador do conto policial, seu estilo mais recorrente é o gótico, analítico e o policial.


Nos contos de horror os personagens são constantemente doentios, obsessivos e criminosos, a morte é um elemento importante em sua obra, dentre esses destacam-se O gato preto, Ligéia, Coração denunciador, A queda da casa de Usher, O poço e o pêndulo, Berenice e O barril de amontillado. Nos contos analíticos, de raciocínio ou policiais o raciocínio lógico é fundamental para o desvendamento dos mistérios, dentre esses destacam-se: Assassinato de Maria Roget, Os crimes da Rua Morgue e A carta roubada. Entre os poemas temos: e o mais famoso “The Raven” (tradução em português: O Corvo),o qual nos cabe analisar, publicado em 1845 no jornal Evening Mirror. 








O poema O Corvo rendeu muita popularidade a Poe ainda que não tenha lhe dado muitos rendimentos financeiros. O poema foi amplamente lido, discutido, elogiado e criticado tanto no meio popular como entre escritores e críticos literários.


A genialidade de Poe é incontestável, no entanto sua vida marcada por perdas como a dos pais quando ainda era uma criança, os desentendimentos com o pai adotivo e mais tarde a perda da mãe adotiva, o sofrimento com a doença da esposa e sua morte prematura unidos a própria inclinação que Poe tinha a vida boêmia lhe fizeram se render ao vicio do álcool e conseqüentemente não lhe permitiu uma vida literária plena já que Poe oscilava constantemente entre publicações geniais e o alcoolismo.


A leitura do poema permite ao leitor retirar alguns dados em relação ao passado do protagonista. Quais informações seriam essas? Qual a relevância delas para o texto como um todo?


Allan Poe Na Filosofia da Composição diz que a beleza é o âmbito da poesia e que o tom que deve nortear o belo é a tristeza, e o que seria então mais triste do que a morte e, principalmente a morte de uma bela mulher, jovem e amada?

 O que seria mais melancólico que um amante chorando a perda da amada. Essa informação não é dada ao leitor de forma clara, mas subtende-se ao longo da narração, pois a dedução e a interpretação são indissociáveis à leitura.


Apesar do nome do poema ser “O Corvo” e esta ser a figura enigmática da narração, o tema central é o sofrimento de um homem decorrido da perda de uma pessoa amada, provavelmente sua esposa, é sobre esse eixo central que se desenrola a figura do corvo e que sua sempre repetida frase “Nunca mais” ganha novo sentido em diferentes contextos.


O motivo da melancolia narrada na primeira estância aparece na segunda estrofe, segundo a tradução de Fernando Pessoa:


“Como eu queria a madrugada, toda a noite aos livros dada
Pra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,...”


Na versão original o nome do narrador não nos é fornecido mas o nome da amada sim, é Lenore, a escolha do nome é feita pela semelhança com a palavra more ou nevermore repetidas a cada final de estrofe. 

Na tradução de Fernando Pessoa não há o nome da amada provavelmente por não oferecer a mesma musicalidade, pois não rima com nunca mais – tradução de nevermore em português. Já em Machado de Assis nós a encontramos na tradução:


“Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.”



Analisaremos o poema segundo a tradução de Machado de Assis, ao ler a narração podemos visualizar um homem triste, solitário, que busca alento para seu sofrimento na leitura, o seu sofrimento deriva da perda de um ente querido como já vimos e por todo o resto do poema o nome de sua amada é repetido:


Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;



A lembrança de Lenore é constante durante a narração, o que nos faz pensar que a figura desta mulher era muito presente na vida deste homem:


Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.


A partir desse momento o narrador inicia a associação da figura do corvo à lembrança de Lenora e é assim que aparece a atmosfera de terror no poema, pois o narrador começa a fazer perguntas ao corvo de forma que a resposta deste, mesmo que sendo sempre a mesma, ganha novo sentido e aparente enunciado de profecia.


É claro que essa hipótese é descartada pelo próprio narrador quando ele diz que as palavras “nunca mais” devem ser a única ciência que o pássaro aprendeu em vida, no entanto mesmo consciente desse fato ele prefere fazer perguntas que demonstram seu estado de espírito e que o deprima ainda mais. Dessa forma ele pergunta:


Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."


E o corvo disse: "Nunca mais".


E assim se seguem outras perguntas, cuja resposta perturba ainda mais o amante. Sua penúltima estrofe é um pedido de clemência para que o corvo se vá, mas a resposta dele é nunca mais, o que faz com que o narrador entenda que a saudade de Lenore jamais o abandonará. Na última estrofe o narrador vê sua sombra embaixo da sombra do corvo representando visualmente seu estado de espírito.


Podemos associar o poema com a própria vida de Poe, afinal, ele mais do que ninguém entendia a dor que causava a perda decorrida da morte, pois com apenas 2 anos de idade ele perdeu a mãe e teve que se acostumar com o convívio de outra família. Allan Poe pode ter usado essa experiência de vida para dar dramaticidade ao poema e é muito válido lembrar que durante o período em que ele escreve o poema sua esposa, Virginia, está sofrendo de tuberculose.


Esse fato visivelmente o abalou e talvez essa tenha sido a inspiração para o tema, como se fosse um presságio para a própria dor e desespero que ele sentiria quando sua amada partisse. Apesar de Poe afirmar em sua Filosofia da Composição que a construção do poema se trata de muito racionalismo é dificil acreditar que não fossem todos os fatos ocorridos em sua vida até então que o fizesse retratar tão fielmente a dor. “Meu propósito consiste em demonstrar que nenhum ponto da composição pode ser atribuído à intuição ou à sorte; e que aquela avançou até seu término, passo a passo, com a mesma exatidão e lógica rigorosa de um problema matemático.” (Filosofia da Composição).


Outro fato que podemos descobrir sobre o narrador é que se trata de um estudante, pois no início do poema o encontramos entre livros:


...Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,


Ao pé de muita lauda antiga,


De uma velha doutrina, agora morta...


Também o fato de o corvo posar em cima do busto de Palas, deusa grega da sabedoria, é segundo Poe “para, em primeiro lugar, demonstrar a íntima relação com a erudiçao do amante...” (Filosofia da Composição, página 7).







sábado, 18 de agosto de 2012

do amor






Sorriso das nuvens rosadas
 recebendo as manhãs
 orvalhadas
com o teu frescor

sol meigo 
dos rios quão suaves
nos teus carinhos 
quais aves
do amor






DAVI CARTES ALVES






sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Agosto e as azaléias






Sim, são elas que vem surgindo
são elas que vem sorrindo
quão radiantes as azaléias

jorrando entre parques e praças
as cores do amor eterno
marcando toda cidade
com o batom adocicado
dos seus beijos rosa pink

seduzindo os ipês dourados
arrebatando enamorados
pincelando os descorados


julho, agosto, setembro
quando polvilham
de sublimes matizes
as ruas, residências, bosques
praças, terminais & marquises

ofertando tão generosas
uma festa para os olhos tristes
 poesia para os sentidos
desafiando nossas manhãs de frio
e perfumando as nossas vidas
de regozijo primaveril






  DAVI CARTES ALVES









Londrina - Paraná - Brasil










domingo, 12 de agosto de 2012

Luz & Lua






A  luz do teu sorriso
é assunto preferido
do brilho das estrelas

fugir de ti
pra dentro de mim
mas a lua do teu sorriso
não quer esperar lá fora
 em romper da aurora

do amor






DAVI CARTES ALVES 








domingo, 5 de agosto de 2012

dóceis & suaves





Aquelas mãos
que o mundo não sabia
o quanto eram dóceis e suaves
para sentir e amar
na imensidão
 de um toque entre cílios