Nasceu em 19 de janeiro de 1809 em Boston e faleceu em 7 de outubro de 1849 em Baltimore. Poe foi precursor da literatura de ficção cientifica e fantástica no cenário literário, para muitos é considerado o marco inicial da literatura norte-americana. Poe foi filho do ator David Poe Jr. e de Elizabeth Arnold Hopkins, ambos faleceram quando Poe ainda era criança. Após isso Poe é adotado por Francis Allan e o seu marido John Allan que apesar de não adotá-lo legalmente lhe deram o sobrenome Allan.
Poe teve a vida marcada por desentendimentos com seu pai adotivo. Desde a juventude, já era uma pessoa boêmia inclinada ao vício da bebida e do jogo, o que lhe causava grandes problemas familiares e acabou por romper definitivamente os laços que o uniam ao pai depois da morte de sua mãe.
Sem a ajuda de Jonh Allan, Poe passa por dificuldades e precisa mudar-se para Baltimore para ir morar com sua tia Maria Clemm, ali Poe produziu textos de ficção e se tornou editor do jornal Sothern Literary Messenger e em 1836 casa-se com sua prima Virginia Clemm de apenas 13 anos.
Em 1838 Poe se muda para Filadelfia onde produz alguns livros, artigos, historias e criticas e se torna editor assistente da Burton's Gentleman's Magazine. Pouco tempo depois a esposa de Poe começa a sofrer de tuberculose o que acaba por abalá-lo muito e levá-lo ao consumo excessivo de alcool, em 1847 Virginia morre e mais intensamente o alcoolismo se torna seu pior inimigo e provavelmente a causa de sua morte prematura.
No dia 3 de outubro de 1849, Poe foi encontrado em frente a uma taberna em estado decadente e levado a um hospital onde veio a falecer quatro dias depois. A causa de sua morte não foi descoberta, algumas hipóteses são levantadas como a embriaguez, diabetes, sífilis, raiva ou doenças cerebrais grave. Suas últimas palavras teriam sido: “It’s all over now: write Eddy is no more” em português: “Está tudo acabado: escrevam Eddy já não existe.”
A obra de Poe foi adversa ao estilo literário dominante da época: o romantismo. O romantismo surge nos Estados Unidos entre meados do século XVIII e XIX e tem como características a exaltação dos sentimentos pessoais, a razão substituída pela emoção e o sentimento, a descoberta da subjetividade, a fuga do mundo real para um mundo de sonhos.
Em contra mão a esse movimento Edgar Allan Poe aparece com temas macabros e personagens obsessivos e derrotados por seu próprio terror psicológico. Poe escreveu novelas, poemas, criticas literárias, mas o gênero literário em que mais se destacou foi nos contos sendo considerado, inclusive, o criador do conto policial, seu estilo mais recorrente é o gótico, analítico e o policial.
Nos contos de horror os personagens são constantemente doentios, obsessivos e criminosos, a morte é um elemento importante em sua obra, dentre esses destacam-se O gato preto, Ligéia, Coração denunciador, A queda da casa de Usher, O poço e o pêndulo, Berenice e O barril de amontillado. Nos contos analíticos, de raciocínio ou policiais o raciocínio lógico é fundamental para o desvendamento dos mistérios, dentre esses destacam-se: Assassinato de Maria Roget, Os crimes da Rua Morgue e A carta roubada. Entre os poemas temos: e o mais famoso “The Raven” (tradução em português: O Corvo),o qual nos cabe analisar, publicado em 1845 no jornal Evening Mirror.
O poema O Corvo rendeu muita popularidade a Poe ainda que não tenha lhe dado muitos rendimentos financeiros. O poema foi amplamente lido, discutido, elogiado e criticado tanto no meio popular como entre escritores e críticos literários.
A genialidade de Poe é incontestável, no entanto sua vida marcada por perdas como a dos pais quando ainda era uma criança, os desentendimentos com o pai adotivo e mais tarde a perda da mãe adotiva, o sofrimento com a doença da esposa e sua morte prematura unidos a própria inclinação que Poe tinha a vida boêmia lhe fizeram se render ao vicio do álcool e conseqüentemente não lhe permitiu uma vida literária plena já que Poe oscilava constantemente entre publicações geniais e o alcoolismo.
A leitura do poema permite ao leitor retirar alguns dados em relação ao passado do protagonista. Quais informações seriam essas? Qual a relevância delas para o texto como um todo?
Allan Poe Na Filosofia da Composição diz que a beleza é o âmbito da poesia e que o tom que deve nortear o belo é a tristeza, e o que seria então mais triste do que a morte e, principalmente a morte de uma bela mulher, jovem e amada?
O que seria mais melancólico que um amante chorando a perda da amada. Essa informação não é dada ao leitor de forma clara, mas subtende-se ao longo da narração, pois a dedução e a interpretação são indissociáveis à leitura.
Apesar do nome do poema ser “O Corvo” e esta ser a figura enigmática da narração, o tema central é o sofrimento de um homem decorrido da perda de uma pessoa amada, provavelmente sua esposa, é sobre esse eixo central que se desenrola a figura do corvo e que sua sempre repetida frase “Nunca mais” ganha novo sentido em diferentes contextos.
O motivo da melancolia narrada na primeira estância aparece na segunda estrofe, segundo a tradução de Fernando Pessoa:
“Como eu queria a madrugada, toda a noite aos livros dada
Pra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,...”
Na versão original o nome do narrador não nos é fornecido mas o nome da amada sim, é Lenore, a escolha do nome é feita pela semelhança com a palavra more ou nevermore repetidas a cada final de estrofe.
Na tradução de Fernando Pessoa não há o nome da amada provavelmente por não oferecer a mesma musicalidade, pois não rima com nunca mais – tradução de nevermore em português. Já em Machado de Assis nós a encontramos na tradução:
“Sacar daqueles livros que estudava
Repouso (em vão!) à dor esmagadora
Destas saudades imortais
Pela que ora nos céus anjos chamam Lenora.
E que ninguém chamará mais.”
Analisaremos o poema segundo a tradução de Machado de Assis, ao ler a narração podemos visualizar um homem triste, solitário, que busca alento para seu sofrimento na leitura, o seu sofrimento deriva da perda de um ente querido como já vimos e por todo o resto do poema o nome de sua amada é repetido:
Mas o silêncio amplo e calado,
Calado fica; a quietação quieta;
Só tu, palavra única e dileta,
Lenora, tu, como um suspiro escasso,
Da minha triste boca sais;
E o eco, que te ouviu, murmurou-te no espaço;
A lembrança de Lenore é constante durante a narração, o que nos faz pensar que a figura desta mulher era muito presente na vida deste homem:
Com a cabeça no macio encosto
Onde os raios da lâmpada caíam,
Onde as tranças angelicais
De outra cabeça outrora ali se desparziam,
E agora não se esparzem mais.
A partir desse momento o narrador inicia a associação da figura do corvo à lembrança de Lenora e é assim que aparece a atmosfera de terror no poema, pois o narrador começa a fazer perguntas ao corvo de forma que a resposta deste, mesmo que sendo sempre a mesma, ganha novo sentido e aparente enunciado de profecia.
É claro que essa hipótese é descartada pelo próprio narrador quando ele diz que as palavras “nunca mais” devem ser a única ciência que o pássaro aprendeu em vida, no entanto mesmo consciente desse fato ele prefere fazer perguntas que demonstram seu estado de espírito e que o deprima ainda mais. Dessa forma ele pergunta:
Eia, esquece, eia, olvida essa extinta Lenora."
E o corvo disse: "Nunca mais".
E assim se seguem outras perguntas, cuja resposta perturba ainda mais o amante. Sua penúltima estrofe é um pedido de clemência para que o corvo se vá, mas a resposta dele é nunca mais, o que faz com que o narrador entenda que a saudade de Lenore jamais o abandonará. Na última estrofe o narrador vê sua sombra embaixo da sombra do corvo representando visualmente seu estado de espírito.
Podemos associar o poema com a própria vida de Poe, afinal, ele mais do que ninguém entendia a dor que causava a perda decorrida da morte, pois com apenas 2 anos de idade ele perdeu a mãe e teve que se acostumar com o convívio de outra família. Allan Poe pode ter usado essa experiência de vida para dar dramaticidade ao poema e é muito válido lembrar que durante o período em que ele escreve o poema sua esposa, Virginia, está sofrendo de tuberculose.
Esse fato visivelmente o abalou e talvez essa tenha sido a inspiração para o tema, como se fosse um presságio para a própria dor e desespero que ele sentiria quando sua amada partisse. Apesar de Poe afirmar em sua Filosofia da Composição que a construção do poema se trata de muito racionalismo é dificil acreditar que não fossem todos os fatos ocorridos em sua vida até então que o fizesse retratar tão fielmente a dor. “Meu propósito consiste em demonstrar que nenhum ponto da composição pode ser atribuído à intuição ou à sorte; e que aquela avançou até seu término, passo a passo, com a mesma exatidão e lógica rigorosa de um problema matemático.” (Filosofia da Composição).
Outro fato que podemos descobrir sobre o narrador é que se trata de um estudante, pois no início do poema o encontramos entre livros:
...Eu, caindo de sono e exausto de fadiga,
Ao pé de muita lauda antiga,
De uma velha doutrina, agora morta...
Também o fato de o corvo posar em cima do busto de Palas, deusa grega da sabedoria, é segundo Poe “para, em primeiro lugar, demonstrar a íntima relação com a erudiçao do amante...” (Filosofia da Composição, página 7).
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