domingo, 28 de outubro de 2007

SOLIDÃO

Não haverá um lenço de compaixão,
pra enxugar a lágrima daquele espinho,
tão engolfado em solidão?

O DESABAFO DO ESPINHO

Quem enxugará a lágrima
daquele espinho?
Não há sequer um lenço de compaixão?
de onde irradias para os mundos e submundos
toda espécie de solidão?

" Não consigo mais me conter ",
Desabafa o enjeitado
Estou sempre a protegê-las
mas levam-nas, tão belas,
minhas champagnes,
as vermelhas, brancas, rosas
e amarelas

furtam-lhes, lindas beldades
belas fadas, anciãs melifluas
sorridentes ninfas
e saltitantes cinderelas

sorumbático quando as levam
é excruciante a dor do espinho
de similar magnitude
daquele rejeitado e agonizante
filhote de passarinho
Ambos clamam suplicantes
Na esquálida esperança
que o bom samaritano
mude ao menos hoje, a rota abençoada
de seu cândido caminho

mais uma lágrima tremulante
desce-lhe devagarinho
ao sentir neste mundo hostil
o amor escasseando
estupefacto jorra em prantos
quão desprezado espinho

não tens um lenço repassado
em enternecida compaixão
pra enxugar a lágrima daquele espinho
que lateja num coração?
Onde muitos a compartilham,
Qual essência, símile, síntese
da multifacetada solidão?





davicartes@gmail.com

COMPOR POESIA

COMPOR POESIA,
É FAZER DOS SENTIMENTOS
BELAS PAISAGENS

MATIZAR EM CÔRES,
AMORES E DISSABORES,
E TRAZER A SUPERFICIE
SUBLIMES IMAGENS

EXTRAIDAS
DOS ARCANOS D'ALMA

domingo, 21 de outubro de 2007

DESILUSÃO

Enjeitada e desiludida
com seu grande amor,
o besouro Zenão
a baratinha, cabisbaixa, taciturna
tomou uma surpreendente decisão

vestiu um colete a prova de balas,
colocou uma venda nos olhos,
e resoluta, tomou firme decisão,
atravessar o galinheiro

moral da história:

insistirmos num amor
não correspondido
é prepararmos o coração
para empreender
uma travessia similar




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quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O VALE DAS CAMPÂNULAS

Ao contemplar enlevado
essa viçosa multidão de campânulas
escarlates e bailantes sob a
musica fagueira de brisas melifluas

ao vê-las, embevecido
transmontarem graciosas,
Esses degraus relvosos,
entre vales e colinas,
como se estendessem
um lindo tapete carmesim
as hostes do Criador

ao avistar enternecido
um último e único botão, valente mas pueril
ganhar mais um beijo tépido do sol
sorriu-me uma ventura
acariciou-me uma esperança

de conquistar-te
uma e muitas vezes
neste ápice de primavera.
Asas da quimera?

Quem sabe não,
me consola esse generoso e perfumado
buquê de campânulas ,
que já o imagino sublime e radiante
em sua escrivaninha.






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segunda-feira, 15 de outubro de 2007

O POETA QUANDO ESCREVE

Com sua poesia, limpa do seu caminho,
o grande entulho de clichês estafados
os cântaros de obviedades,
as formas exaustivamente gastas
as sacolas plásticas
transbordantes de mesmices

Com sua poesia
desfaz lugares-cômuns
no seu distinto olhar sobre as coisas
colorindo o descorado,
fazendo do riso timido, gargalhadas
de duas lágrimas, enxurradas
repassando em novas matizes
velhas palavras,

oxigenando-as dia a dia,
de surprêsas, encantos e deleites
escritas com o mesmo frescor
e vitalidade,



deste novo amanhecer





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O CEMITÉRIO DE ROSAS NEGRAS DA SIBÉRIA

Naquele vale em suave declive
entre sicômoros e carvalhos
Crescem belas rosas negras
Onde há em suas pétalas
manchas de lágrimas dissecadas

Dizem ter existido ali
O Antigo cemitério de Dresden
Como uma velha senhora agonizante
Cujos filhos foram sepultados,

Junto com suas mães resignadas,
e suas esperanças mutiladas
Pelo anjo negro da intolerância
e sua balança “eqüitativa ”
com pesos enchidos de covardia,
e duma prepotência totalitária

Podaram-se os rebentos matriarcais
Não vi correr por esses gélidos campos
A pequena Godveliskaia , e seu sorriso efusivo
fácil e cativante, tão generoso em sua mãe

não vi caçar por esses vales
o pequeno Adriansakov
e a mesma intensidade e disciplina
de seu pai com sua coragem
de um visionário Cosaco
por uma Russia soberana

Jamais verei as crianças
de Teofilia Serova, Angelina Vitalitherbo,
Ilena Tsvenikova,
Vera Petrova, Selena Padkopaieva,
Mamães levadas em trens transbordantes,
e suas mãos ejetadas em desespero
produzindo um espetáculo
de acenos suplicantes,

Jamais verei os novos irmãos de Karamazov
As lindas bisnetas de Anna Karienina,
O filho bastardo de Raskolnikov
Todos ceifados pelo lépido e voraz
anjo negro da intolerância
e sua balança “eqüitativa” ,
com pesos enchidos de covardia,
e duma prepotência totalitária

A voar num céu de mares de chumbo
Onde gritos de inocentes reboam,
num silêncio insuportável
nos confins de uma Sibéria ,
e sua convalescença incurável

Naquele vale em suave declive,
No antigo cemitério de Dresden
Vejo uma anciã de fronte vincada
Sombria , encapuzada,
Por fina garoa engolfada

A segurar firme,
numa oração balbuciante,
uma esquálida rosa negra
Por suas lágrimas dissecada,
E numa lápide ilegível e disforme
Tem suas pétalas derramadas.








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quarta-feira, 10 de outubro de 2007

PINCEI VERDADEIROS DIAMANTES NUM RASCUNHO . 3

A literatura na Poltrona

" Este recente livro de Jose Castello, apresenta alguns pontos de vista do autor, e em todos eles as reflexões foram deflagradas a partir do ato de ler.

Castello defende, o ato de ler, mas a leitura sem anteparos. A leitura sem os óculos do conhecimento sistematizado para ler. A leitura que proporciona prazer. A leitura que incomoda. A leitura enfim, que modifica quem lê. “ Para quê mais alguém lê um livro, senão para transformar? ”

“ A arte – a literatura – não é o terreno dos resultados, e sim do risco. É misteriosa a experiência da criação, e ninguém a atravessa, sem uma boa dose de entrega e de perigo. Um artista cria a partir de sua experiência pessoal, da cultura que o formou, mas também da que acumulou, dos saberes que lhe transmitiram; mas cria ainda, a partir do que desconhece, do que não domina, e até, do que o assusta e o submete.

O século XX se encarregou de fracionar e desfigurar os gêneros literários, e as idéias consagradas a respeito da literatura. Escritores como Kafka, Virginia Woolf, Borges, Joyce, Proust, Pessoa, estilhaçaram aquelas certezas frágeis que, precariamente ditaram as normas da literatura no século XX ...

O século XXI , se abre para literatura como uma paisagem em ruínas: escombros, balizas envergadas, destroços. Um deserto é o ponto de partida daqueles que insistem no desejo de escrever."

JOSE CASTELLO – Escritor e Jornalista

Rascunho ( periódico de literatura )

SEU CARINHO, SUAS CARICÍAS

Só o poder do seu carinho
suas caricías
transforma esses meus aborrecimentos
num generoso mar de ternuras
quando tudo é engolfado,
por meus sorrisos , nas suas canduras.



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INESQUECÍVEL POETISA

Minha linda princesinha poetisa,
Deus cuide bem de você meu amor,
e proteja essa sua sensibilidade angelical,
e esse coraçãozinho de amores, tão fagueiro
e de ardores tão matreiro, brejeiro

ora de onde emana paz tão sublime, suave
ora onde encontro esse mar de purezas
como dum cisne, esta serenidade
ao atravessar esse meu lago de chamas,
que só espelha você

e nos remansos d'alma
achar seu melífluo conchego,
doce repouso
pra mim voltar só em ti renascer.





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