segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Maestro








O crepúsculo vespertino  flamba as nuvens de saudade, bordando  origamis de luz, arrebol de estrelícias,  mel dourando nosso amor, na melancolia das horas.


Ele chegou em casa todo dolorido, ruminando com pesar a indiferença de sua grande paixão, sentia-se como se uma garoa gélida e valente estivesse a açoitar a alma teimosa. E dizia a si mesmo, lembrando das palavras do amigo conselheiro, para de carpir na rocha!! Você esta socando ouriço, esquece isso! Deixa disso!

Os pés úmidos rasgavam-se em sangue enquanto pisavam nas laminas e cimitarras daquela beleza que o estapeava. Beleza muriçoca, que não o deixava em paz em noites de insônia.

E com o rosto marchetado em dor e resignação, restou-lhe deitar e sonhar no caleidoscópio daqueles beijos tão desejados.

E sonhava, Ah! Como sonhava. Sonhou até ter passeado junto com ela na maior roda gigante do planeta , entre os arranha-céus da Malásia, depois da visita aos primatas de Uluwatu.

Sonhava também ser uma espécie de curador do silêncio, sim, sonhava pintar o silêncio de poesias coloridas, onde pétalas de tulipas, gérberas, acácias e buganvílias, diluíam-se no céu do seu crepúsculo vespertino.

Onde soprava de um canequinho com detergente e canudinho, miríades e miríades de borboletinhas luminosamente amarelas que salpicavam tagarelas e palpitantes na lousa negra e fria da noite.

E nos seus sonhos, sonhava também ser um maestro.

Mas um maestro diferente, descia até o riacho, lá bem depois do vajão, nas baixadas do bororó, e com uma fina paina seca cor da pele, descia mesmo escorregando nas bordas, e caminhava um pouco adentrando no lindo riacho, ziguezagueante e musical, ia mais ao fundo, com a água até os joelhos, e parando de frente ao riacho mel, que descia caudaloso e docilmente sonoro ao seu encontro.

Aprumava-se altaneiro, pedia silencio pras rãs que tem aquele canto de amor triste e cadenciado, aquele da novela Pantanal que você ouve e da vontade de se jogar do décimo andar. Uma vez as rãs quietas de amor, então iniciava docemente no comando de sua orquestra natural.

Fazia os movimentos de um maestro com a paina fina, enquanto ouvia as cantatas do riacho, a água caindo melifluamente, voltava os tons maviosos e suaves, realçando com doçura os violinos e silenciando gradualmente o rabecão, e a água brincalhona beijando os sulcos e pedrinhas, fazendo aquele barulhinho que faz o sono ficar mais gostoso né? É o córguim né?


E quando chovia naquele cenário, na sua mente eram realçados os tons de intensidade, sax & violinos choravam com mais sonoridade, jogava a cabeça pra traz em gestos vigorosos, e o cabelo desgrenhado e úmido, como dos grandes maestros que ganham bem.

Dava pequenos repuxos com a paina, dardejando a cabeça e gesticulando majestosamente, e as cantatas do riacho misturavam-se com a musica que a chuva torrencial produzia, que até podemos chamar,
ritmo &; poesia.

E ele não queria ser um Vila – Lobos, magina gente, mas ali naquele cenário tão paradisíaco e aquoso, quão onírico e colorido, contentava-se em ser um: Vila – Girinos, sim, pois miríades e miríades de girinos trêmulos e luzidios que moravam no riacho, eram também espectadores finos vestidos de smoking com lindas gravatinhas, e ele em fim pode ver que os girinos possuem boquinhas para assobiar e aplaudir, e como sorriam, notou que especialmente os girinus albinos, tem menos fôlego para os versos longos.

E gradualmente, as chuvas avolumavam-se.

E quando tornavam-se violentas tempestades, em fim, sempre acordava de suas viagens oníricas, suando feito chafariz, pois para atenuar o seu amor impossível, sonhava ser como um curador daquilo que o silencio expõe, trata e sara , porque o silêncio também dialoga através de uma sinfonia própria para as almas apaixonadas.

E acordava mais tranquilo, lembrando de quão prazeroso era ser naqueles sonhos pueris, um curador do silêncio, ou um altaneiro e bem conceituado, maestro das cantatas de riachos.

E perguntava-se resignado:

Por quê será que no amor damos uma de faquir, e esquecemos possuir pés e pele
de recém nascidos?






Fer Paola


Saudade





































































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