terça-feira, 25 de outubro de 2011

girassol inebriado de luz ...





                                 ou de amor?







sexta-feira, 14 de outubro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A elegía do amor





Amar-te é sublime
é sentir a alma engolfar-se
nos casulos
da brisa primaveril

sentir-me
como as pedras frias, duras
mas que
no leito dos teus braços &abraços
acordam dunas
areia clara, macia
doce elegia
de querer-te

pois só
tua alma traz a musica do mar,
e marulhar no teu doce realejo
no frescor dos teu abraços,
balbucio, deliro,
versejo

o primeiro pingo
da garoa nua
fez minh’alma
ser tão sua

beijo de brisa que sulca
o pelo felino
riso menino
sob o som de violino

derramas por taça de volúpias
seara de nirvanas
és minha linda borboleta sedutora
que pousa embevecida
em mar de chamas

vestir-me de você nesta hora
hora escarlate
que transpassa
como amar e sonhar
no bojo tépido e macio
de uma bela acácia

nos teus braços
renascer em uma fonte
de generosa doçura
neste cárcere paradisíaco
quais flamingos alados
em ternura

em meio aos teus lábios & versos
 sinto-me flutuar em espiral
na cadência de milhares de arraias
dentro de um balé vertiginoso,
divinal

em você
como nas mais raras e belas flores
só devem pousar borboletas
com multicoloridas asas de seda
e delicadas anteninhas de ouro

ficas ainda mais bela
de sobretudo caramelo
os anéis de seus cabelos me anelam
ao roubarem beijos
dos seus lábios de mel
como travessos colibris.

 Sua presença!
Quão maviosa!
Chegar assim,
nesta doce intimidade solar
trazendo nas suas asas de amor
a fagueira calmaria do mar

como derramas n’alma
sob densas matizes
sua generosa cesta de cores
és tão leve, tão luz, quão linda!
a pousar e repousar teus afetos
sobre os meus 
mais tênues sensores

faz-se toque entre cílios
feixe de gérberas
caldo de luar
reinventa num sopro melífluo
novas nuances
para o verbo amar

faz-se beijo de brisa
cantinela de riachos
langoroso esvair-se da onda na areia
num que de ofertar

faz dos teus mansos fulgores
em minhalma,
um perene palpitar

O que continuará a existir sem você?
Pois quando o amor, generoso
derrama-se dos seus lábios sobre nós,
ele produz n’alma, o sublime frescor
de um novo
e orvalhado amanhecer

banhar-se na volúpia e no deleite
dos teus rios de dor sem imagens
incendiando-me com as paisagens
evanescentes do amor

Uma e muitas vezes
brincar com o teu sorriso,
sorriso?
Ou um diamante que brilha?
Ou o céu que se anila?
faz lembrar,
a primeira estrela que cintila

Será que há mais mel
no bojo da acácia
quanto na terna mansuetude
de seus belos olhos?

Será que há mais
delicadeza & sensualidade
nas curvas da tulipa escarlate
quanto na leveza sinuosa
de seu lindo talhe
coleante de prazeres?

Que tal este presente amor meu:
a lua me sugeriu
um vestido de néon
o céu, uma tiara de estrelas
o mar, um multicolorido top
de conchas e corais

Não será pelo teu sopro
que abrem-se as acácias
e sorriem as buganvílias
enamoradas?

Afinal?
Que jóias a troucheram 
do mar profundo?
As flores das estrelas,
o mel do mundo?

Pedaços de cereja
teus lábios túmidos
a cantar o amor
somente o amor
em meus submundos

Quem é você?
que com os teus encantos e deleites
faz até mesmo
anjos & diamantes luminosos,

anoitecerem?

São as luzes das rosas
que iluminam tua alma?
Tormentas da vida recuam
ao teu pedido de calma

Tu me fez ver na queda
suave passo de dança
fez da tola ambição
e da nociva prepotência
pura ternura de criança



Davi Cartes Alves



Imagem - escultura
Jean Pierre Augier


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O lobo da estepe - Sidarta - Iracema





Pensa nos teus leitores
nesses pobres pecadores
e de livros roedores

seu dragão de chamas falsas
isso é de rir
até arrebentar as calças
e fazer pipi nas calças

Oh coração de fé imensa
veja a tua luta intensa
com tua tinta de imprensa

burlado e escarnecido
vai avante
com seu rabo bamboleante

 poema de Herman Hesse,
 descrito em seu romance
O lobo da estepe

“ não seria mais que espumas boiando no mar,
ondulação sem sentido
nas torrentes dos acontecimentos”


“ fizera alguns buracos 
na rede do tempo
e da realidade ilusória”


“ embora permaneça divino, 
sob uma forma tão medonha”


“ O homem 
é formado por uma multidão de egos”


Trechos de O lobo da estepe
Herman Hesse - 
Escritor Alemão 
 
 
 
Sidarta e Iracema




Particularmente, acredito que, guardada as devidas proporções de época, temática, estilos, espiritualidade e outros contextos Bakhtinianos, o livro Sidarta de Herman Hesse, no trabalho com a linguagem, na beleza da composição estética da palavra, na rica poesia em prosa, no eu lirico, no status de pequena e valiosa jóia da literatura universal, aproxima-se encantadoramente com nossa Iracema de Jose de Alencar,em todos esses tópicos e é claro, de um modo especial, nas tempestades e bonanças, no feitiço e na doçura, que envolve e nos envolvem, a Kamala  de Hesse e a  Iracema de Alencar.

Recomendo a leitura de ambos.





Mais do que palavras






“O primeiro alimento é a palavra. Da concepção ao nascimento ela agasalha, reconforta, acarinha, (...)

Com sua marca indelével nos lembra o silêncio dos entardeceres. Destino, punhal suspenso na esquina do coração. Estrela que se esqueceu de nascer.

A palavra é pulsante, ardilosa em suas teias de horizonte, difícil domá-la na arena do papel.

Doce de chuchu lambuza a alma? Um bule esmaltado fareja as manhãs? Lâminas de sal ferem? A pele do tempo sufoca? Que pássaros migram dos olhos da amada? Um céu de infinitos possui tímpanos de prazer? E as roupas sonolentas nos varais, quem as terá colocado? Os dados da angustia prevalecem? Quem fez o laço dos moinhos e deitou no ventre das pedras? A tarde é uma interrogação?

O grão se faz á medida para que a palavra exploda e o menor de seus fragmentos é vida.

Que pode oferecer o que trabalha a palavra, a não ser a própria palavra retransformada em casa, beijo, prego, anzol ou pedra de rio?

A palavra arde; a palavra fere, mastiga, tritura; a palavra brota; a palavra é grão; a palavra explode em veludo.

Carpir silencioso onde sequer a voz alcança, ventre onde o som debulha notas de trigo, a palavra gera.

Seremos dignos dela?

Surgem, as palavras, nas horas mais estranhas. Numa fria madrugada me acordam, me sacodem e dizem: Levanta-te e anda! E que faço senão obedecê-las? Tiritando, saio atrás de caneta e papel para registrá-las. No ônibus, na fila do Detran, na corrida no parque. Quando menos prevenido me encontro elas me encontram. (...)

Em outros momentos eu a procuro em desatino e ela não se revela. Busco a palavra certa para completar a frase perfeita e ela se esconde. E ela, feito mulher bonita e desejada, se enche de brios, se faz de gostosa, de difícil, e não cede. Sofrer por ela é quase como sofrer por um amor impossível.

Eu, palavrador, tenho feito delas uma companhia de muitas e muitas horas, entre um cálice de vinho e um concerto de Bach. Tenho, com elas, uma luta cotidiana. Com várias derrotas e algumas vitórias. Que as palavras, caros leitores, não se rendem por qualquer elogio. Não se entregam a um simples toque de dedos. São orgulhosas, as palavras. Conhecem o seu valor. Maravilhosamente carinhosas, as palavras, quando sabemos conquistá-las.

Elas se divertem com os escritores que pensam que as têm em seu poder. Riem daqueles que imaginam que elas estão a sua disposição em qualquer circunstância.

Mas se deliciam com os que entendem que uma palavra não é feita tão somente de símbolos e caracteres, mas que elas contêm segredos e artimanhas. Uma palavra, caros amigos, possui alma. Perversa com quem a desdenha; generosa com quem desvenda sua intimidade.

Eu, no meu ofício a respeito. Essa que se entrega e se deixa burilar, diamantemente esplendida e luminosa, por tantos escritores, o que me causa inveja. Essa que, de vez em quando, pousa em mim cheia de encantamento.

(...) a frase salta num repente e me toma, toda métrica e ritmo: Levantar-se a tempo de acordar o sol. Caminha até o banco e comigo retorna, grudenta sanguessuga, até que a faço repousar em um bloco.

É assim que se faz. Nada de magia, fórmulas milagrosas, inspiração divina, yoga, mentalização ou similar. Apenas, sensibilidade, imaginação e trabalho, muito trabalho.


A diferença entre uma pessoa dita normal e outra criativa é que esta possui, de forma pura e simples, percepção mais acurada, ou, conforme as palavras de Szent-Gyorgyi, essa pessoa possui a capacidade de ver o que todo mundo vê e pensar o que ninguém pensou.

Assim se escreve. Você lê, e muito; é imaginativo, observador; freqüenta ou não oficinas de literatura. Não mais que de repente, surge-lhe a idéia, o desenho dos personagens, o desenrolar da ação, o clímax. A sua frente o computador, a máquina datilográfica ou, simplesmente, o papel em branco e a esferográfica.

Em você, a receita e a técnica se complementam. E você as segue, minuciosamente, livro a livro. O resultado, claro, é encantador e merece aplausos. Mas (e como é importante este mas) se além de tudo você for um transgressor e possuir impetuosidade, destempero, ousadia, indignação, ao agregá-los à técnica atinge o nirvana.

Se definir o seu próprio idioma, haverá de transformar peixes em estrelas. E quando decifrar a alquimia das palavras, sem se preocupar em transformá-las, as transformará de forma tal e tão brilhante que haverá de se perpetuar. (Talvez o sucesso não aconteça de imediato. Normal. Mas você é daqueles a quem o vento não dobra, vaso que não se quebra à primeira queda; você tem consciência de seu talento e, por isso, e por outros tantos motivos, há de perseverar. Bravos! Com toda a certeza que a vida permite, você o alcançará).

Escrever é um dom, segundo Domingos Pellegrini; não é mérito pessoal, mas herança humanitária. Honrar este dom com trabalho e ética, como em qualquer atividade humana, é o grande mérito.

Alguns o conseguem, outros não. Àqueles, seja qual for o grau, é dado olhar o pôr-do-sol através da tempestade. Meter as mãos no barro e transformá-lo em tulipas.

Redescobrir a vida e sua melodia. Perceber a sutileza do espanto e empalmá-lo. Destravar o carro e deixá-lo ao sabor das correntezas sentindo o vento cortar a pele, certos de que, ao fim e ao cabo, haverá, sempre haverá, a magia das palavras e o deslumbre de quem prova e sente o maravilhoso sabor de cada um de todos os dias.


Alguém se habilita? "


Texto de - 
 Sergio Napp - Escritor Brasileiro





terça-feira, 11 de outubro de 2011

ocaso

 




Dobrar o véu calmamente
trocar a água das rosas
o mertiolate para asas feridas
segurar em vão
as lágrimas
que zombam das cores
de qualquer verão

 



sexta-feira, 7 de outubro de 2011