Tafate
tira a folha ressequida
no vasinho de violeta púrpura
enquanto olha pela janela
aquela cena se repetir
miríades
de cadáveres de anjos
de cadáveres de anjos
alguns ainda revolvem-se
num último suspiro
intrigada
pede para filha reparar
naquele mar
de asas balbuciantes
de asas balbuciantes
mas novamente
a filha diz não ver nada
resignada, Tafate não quer insistir
mas pondera de si para consigo:
o que restou
de mais uma noite de batalhas
tira então outra folhinha machucada
quando uma lembrança
lhe rouba o pensamento
lembrança
como uma marca d’água
como uma marca d’água
impressa n’alma
Inerente
Indelével
Intrínseca
afetuosa
mel que alude
a um céu de abraços
a um céu de abraços
cantoria de riachos
entre crianças
efusivas
ao sentir envolver
n’alma
manto suave de candura
as mãos na cabeça
a saudade
Mas naquele dia
de céu engolfado em cor
pesadamente ametista
a surpresa maior
ainda estava por vir
ao molhar a plantinha
repara um minúsculo botão de violeta
novo, firme, valente
com riscos purpúreos de veludo
o que lhe motiva
a prosseguir
e quando olha pela
janela outra vez
percebe
que alguns anjos
lentamente elevam-se
lentamente elevam-se
enquanto outros
definitivamente,
não tem a mesma sorte.
DAVI CARTES ALVES
créditos da imagem - Sebastião Salgado
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