quarta-feira, 22 de maio de 2013

Torpor













Tafate
tira a folha ressequida
no vasinho de violeta púrpura
enquanto olha pela janela
aquela cena se repetir
 
miríades
de cadáveres de anjos
alguns ainda revolvem-se
num último suspiro
 
intrigada
pede para filha reparar
naquele mar
 de asas balbuciantes
 
mas novamente
a filha diz não ver nada
resignada, Tafate não quer insistir
mas pondera de si para consigo:
  o que restou
 de mais uma noite de batalhas
 
tira então outra folhinha machucada
quando uma lembrança 
lhe rouba o pensamento
lembrança  
como uma marca d’água 
 
impressa  n’alma
Inerente
Indelével
Intrínseca
afetuosa 

mel que alude 
a um céu de abraços
cantoria de riachos
entre  crianças efusivas
 
ao sentir  envolver  n’alma
manto suave de candura
as mãos na cabeça
 a saudade

Mas naquele dia
de céu engolfado em cor
  pesadamente ametista
a surpresa maior
ainda estava por vir

ao molhar a plantinha
repara um minúsculo  botão  de violeta
novo, firme, valente
com riscos purpúreos de veludo
o que  lhe motiva
a prosseguir

e quando olha pela janela outra   vez
 percebe
que alguns anjos 
lentamente elevam-se
 
enquanto outros
definitivamente,

não tem a mesma sorte.










 DAVI CARTES ALVES



créditos da imagem  -  Sebastião Salgado 














 

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