sexta-feira, 18 de maio de 2018

Há sempre um rio que não é tão longe





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Corríamos sobre eles quando crianças
hoje o encaramos com encantamento
o questionamos 
sobre  as dores e delícias da alma

há sempre um rio que não é tão longe
Belém , Palmital, Nundhiaquara
Atuba, Tiete, Rio das Ostras
Rio Pelotas, Guapore, Rio de Janeiro, Paranazão , Barigui,  Piracicaba 

rio tempo , riod'alma,  rio versejando 
ora anoitece doce e calmo
como uma canção de ninar
ora amanhece uma tormenta 
pulverizando pontes

há sempre um rio que não é tão longe
banhando corpos maltratados 
e mentes mesquinhas,
tentando  quarar em vão uma sociedade suja
doentia, hipócrita e tirana 
com seus canalhas a granel

Há sempre um rio para os apaixonados
refletindo na sua lamina 
entre amores e dissabores
belos slides do teu sorriso
junto com a brisa de mil paraísos
pois tudo que os nossos sonhos prometeram
se concretizaram na magia do seu encanto
quando os nossos cílios se tocaram
nas margens de um rio sem nome

há sempre um rio que é tão dentro
que vê a memória afetiva ser protegida
por anjos e diamantes 
ao longo da vida,  caminhadas, conquistas,
travessia
percorrendo artérias e pensamentos
levando a saudade e o sofrimento

rio que outra vez na cinza das horas
vê as crianças espalharem como pássaros 
no final dos folguedos, 
crescerem, sonharem, amarem 
agora  já idosos o reverenciando 

há sempre um rio do nosso tempo
que nos mostra 
que tem sempre um sol que é mais carinho
nos braços ternos da saudade
afago, berço, conforto de ninho

há sempre um rio que não é tão longe
sonorizando monjolos no crepúsculo vespertino
ou tornando a borrasca ainda mais cruel

a dor no gemido do rio através de tantas mães 
alivio por Sifrá e Puá gestando a justiça 
na terra da tirania
e nas águas do Nilo 
bagas e bagas de  sangue e lágrimas
onde o choro da mansidão enfim foi ouvido

a vida é um rio poema em perene  construção 
este vai longe e longo , sereno
rio caudaloso , suave ou algoz
que desagua n`alma puro ou atroz
assistindo conosco vitorias e derrotas
e ouvindo os nossos lamentos
pois a vida é também 
uma coleção de perdas queridas e importantes

há sempre um rio para cada clássico
o Tweed de Walter Scott
o Simeto de Mário Puzo
o Ouse de Virgínia Wolf
o Capiberibe de José de Alencar
o Nieva de Dostoievski
o córguim de água simplificada
de Guimarães Rosa
o Dodder de James Joyce
o Belém de Dalton Trevisan
e tantos e tantos outros...




DAVI CARTES ALVES










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