quarta-feira, 20 de junho de 2012

Paçoca para cachalotes










Já idoso, mas muita saúde      
 muitos, muitos sonhos  

dormia na cadeia com uma laranja bem agarrada na mão

aos safanões, é acordado pelo carcereiro, para liberdade

Eita!!!  E é?

E caminhando daquele jeito peculiar  tchu tchu tchu , saiu, trôpego e resignado de poderes insossos, com o chapeuzinho balangãndinho que quase caiu quando passou o ruidoso caminhão de areia, 

amou como nunca a chuva fria, nhac nhac nhac, querendo devorar os pingos que açoitavam os vincos profundos do rosto, feliz!

Viu que os filhos da Mirda estavam grandes e soube que a Joaninha  foi com a Anita para casa da Maria.

Depois , foi na casa da Órdeci , um ser divino que carregava n’alma a ternura  quando o assunto era criança e violetas cariadas de desafeto, as mãos grandes como rústicos cachos de banana, o coração uma barril de lagrimas, flores, novelos e bolinho da chuva com café, 

pra quem chegava:  vô frita mais!!!

Mas lhe intrigava mesmo era a filha do meio, ela tinha sempre uma sacola ( retornável) de gargalhadas,  para dias e dias de garoa,

 adorava recitar Byron ao se depilar,  inebriada em feixes de luz 

os amores dissolviam naqueles lábios cadinhos, numa chuva de pequenas luas, 

deslizando as mãos pelas costas, ela reconheceu que as sementes de alumínio estavam  danificadas, pois lhe nasceram grandes  e belas asas cromadas, porem,  uma delas um pouco torta

depois de abaná-las três vezes, lembrou de três amores ao longo de dois  suspiros,

 e de como os domingos eram longos trechos de um deserto com pouca areia e muita dor 

no quintal, colhia nos braços o feixe de gérberas, com o mesmo cuidado,  afeto e carinho, com que se recebe um recém-nascido.

- O almoço esta pronto!

Quando a mãe deposita em seu prato um suculento pedaço de carne, ansiosa, diz que acabou o fio dental

-E os escritos?

- Só escrevo com a luz!

- É fotógrafa?

Seus olhos brilhavam diante daquela juventude livre e misteriosa,

Quando eram exatamente  16h42,  notou que ela foi ate a janela segurando com as duas mãos, um punhado,  

O que é isso???

Sorriu,  lhe acariciou com um longo olhar enternecido, e lançou o que era uma pequena porção de pequenos pássaros vermelhos,  pontilhando belamente o céu cinza amianto

Enlevou-se com os tons em vermelho  naquela pintura celeste,  céu de delícias, azul de quimeras, e a música dos pássaros vermelhos bordando mosaicos pro amor

Ele notou na mão, ainda a fragrância da laranja, não resistiu mais e perguntou:

Afinal , quem é você?

Ela preferiu repetir o refrão de sua música preferida:

“ Sou tudo 
o que você não pode controlar,
 em algum lugar 
além da dor.”




DAVI CARTES ALVES 







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