sexta-feira, 10 de abril de 2015

Pássaros Fortes














Já idoso, mas muita saúde      

 muitos, muitos sonhos  



dormia na cadeia com uma laranja bem agarrada na mão



aos safanões, é acordado pelo carcereiro, para liberdade



Eita!!!  E é?



E caminhando daquele jeito peculiar  tchu tchu tchu , saiu, trôpego e resignado de poderes insossos, com o chapeuzinho balangãndinho que quase caiu quando passou o ruidoso caminhão de areia, 



amou como nunca a chuva fria, nhac nhac nhac, querendo devorar os pingos que açoitavam os vincos profundos do rosto, feliz!

Depois usufruiu um céu multicolor com demãos e demãos de flores do campo



Viu que os filhos da Mirda estavam grandes e soube que a Joaninha  foi com a Anita para casa da Maria.



Depois , foi na casa da Órdeci , um ser divino que carregava n’alma a ternura  quando o assunto era criança e violetas cariadas de desafeto, as mãos grandes como rústicos cachos de banana, o coração uma barril de lagrimas, flores, novelos e bolinho da chuva com café, 



pra quem chegava:  vô frita mais!!!



Mas lhe intrigava mesmo era a filha do meio, ela tinha sempre uma sacola ( retornável) de gargalhadas,  para dias e dias de garoa,
 adorava recitar Byron ao se depilar,  inebriada em feixes de luz 



os amores dissolviam naqueles lábios cadinhos, numa chuva de pequenas luas, 



deslizando as mãos pelas costas, ela reconheceu que as sementes de alumínio estavam  danificadas, pois lhe nasceram grandes  e belas asas cromadas, porem,  uma delas um pouco torta



depois de abaná-las três vezes, lembrou de três amores ao longo de três  suspiros,



 e de como os domingos eram longos trechos de um deserto com pouca areia e muita dor 



no quintal, colhia nos braços o feixe de gérberas, com o mesmo cuidado,  afeto e carinho, com que se recebe um recém-nascido.



- O almoço esta pronto!



Quando a mãe deposita em seu prato um suculento pedaço de carne, ansiosa, diz que acabou o fio dental



-E os escritos?



- Só escrevo com a luz!



- É fotógrafa?



Seus olhos brilhavam diante daquela juventude livre e misteriosa,



Quando eram exatamente  16h42,  notou que ela foi ate a janela segurando com as duas mãos, um punhado,  



O que é isso???



Sorriu,  lhe acariciou com um longo olhar enternecido, e lançou o que era uma pequena porção de pequenos pássaros vermelhos,  pontilhando belamente o céu, agora cinza amianto.



Enlevou-se com os tons em vermelho  naquela pintura celeste,  céu de delícias, azul de quimeras, e a música dos pássaros vermelhos bordando mosaicos para o amor



Ele notou na mão, ainda a fragrância da laranja, não resistiu mais e perguntou:



Afinal , quem é você?



Ela preferiu repetir o refrão de sua música preferida:



“ Sou tudo  o que você não pode controlar,

 em algum lugar,

 além da dor.”








DAVI CARTES ALVES 






















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