sábado, 8 de maio de 2010

garoas, gravetos & marés


Meus olhos de concupiscência
maculam tua pureza
ferem tua leveza
de fina flor de estufa

de rara borboleta
banhada em cores e luz
e sempre tão suave
como um beijo matinal

sorriso que me acabo
ao léu do teu descaso
lembrança de tortura
elegia de amargura
não vou passar além

na nuvem pura de algodão
um lírio ensangüentado
pingando lava violeta
desmancha-se no crepúsculo
no céu dos meus amores
enchendo lentamente
uma taça sinuosa de horrores
de fel e dissabores

manhã de primavera
sem flor, sem aquarela
tuas cinzas esfarelas
nos céus do meu olhar

os gravetos molhados na campina
não espantam as sabiás
como o teu desejo de tê-los
e os meus desejos
não quere-los
apesar dos meus apelos
carinhos & desvelos

terça feira
já é fim da tarde nublada
a lembrança da praia vazia
o vento penteando
pequenas moitas valentes
na areia alva e macia

o farol quieto e soturno
como um gigante leve
irmão dos pássaros e das vagas
cativa os silêncios da alma
que o diga Virginia Woolf

a saudade se materializa
no olhar mudo e distante
do albatroz que descansa
no restos de uma canoa velha

perdido na garoa forte
dentro de um caldeirão cinza, frio
um sábado que não acaba
já sei que você não vem
a dor pode ir mais além?

delicia é atravessar a nado
as nuvens e sedas
da tua coleante maré
mas a luz dos teus olhos
morria pra mim
afogo-me e salvo-me
no teu mar de desprezo

dor surda e agônica
com que me atiras
quais restos de madeira
que a praia rejeita
num manto de espuma
em novo amanhecer


by  DAVI CARTES ALVES

Nenhum comentário: