domingo, 20 de novembro de 2011

Arco - íris






O menino caminhava à beira mar com seus amigos. Já estavam muito cansados. A bem dizer, exaustos, quando ao longe avistaram um bando de cães. Diversos, canhestros, esverdeados. E os cães começaram latir. Mas latiam num ritmo paralisado. Rotação emperrada que impedia o som. Dos seus uivos formou-se uma espécie de gaze , véu lilás cobrindo todo o mar, que agora exalava uma fina e perfumada fumaça salmão sublevando e balbuciando canções de ninar. 

         Seria o incenso das sereias, emergindo do imenso e colorido véu sonoro? Talvez os meninos pensassem. Enquanto peixes com seus saltos coleantes fora d´água transmutavam-se prontamente em gaivotas-néon ascendendo em meio a grandes arraias e bailarinas evanescentes. Dos bicos desses insólitos pássaros derramavam-se barquinhos de papel, caindo suavemente na superfície lilás do mar. 

Seriam crianças de colo com suas gengivas lisas e lindos dentinhos os navegantes dessas embarcações? Os meninos talvez pensassem. 

Mas tudo se fecha e some no piscar dos grandes olhos verde esmeralda, velados por longos cílios da bela fada-sereia. Brincadeira de cabra-cega. Olhos que caíram na areia entre os garotos como lindas bolinhas de gude que tilintavam entre os gritos do barulhento intervalo escolar.

E eis que um bruto som abruto de buzina intima os garotos a olharem de súbito para a rua. Como alcatéia de lobos ou cães adormecidos quando ouvem um tiro no cio da noite, levantam as cabeças em uníssono, todas ao mesmo tempo em gesto idêntico. 

Seria talvez o barulho do ônibus  do Sacre-Coeur levando para longe as meninas que mascavam bolas de chicle. Metade uva, metade laranja? E o coração dos meninos pela metade. De repente, bate o sinal. Devem retornar às salas. O menino e seus amigos tapam os ouvidos e correm de olhos fechados. Lentos sons de latidos. A infância deslizando no  longo e encantador arco-íris.

Breve tempo infinito.



DAVI CARTES ALVES





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