quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

SOB O OLHAR PERVERSO DO AMOR




Desejar-te tanto


pele, alma, lábios


querer vestir-se com as tuas dores


querer ser balsamo


orvalho revigorante


para teus exaustos sensores






Mais eis que da tua fausta bandeja


só caem migalhas


entre cascas barrentas e amargas de aipim


encerradas num, bom dia!


Tépido e sem cor,


morno assim






Parca ração


quando a tua chuva não beija á tempos


as searas ressequidas


e o vazio das tuas mãos ausentes


a esmurrar-me já nas cordas,


impiedosamente






Resta recolher resignado


espalhados pelo carpe,


sem mais o pulsante brilho,


estilhaços de um coração de acrílico






Arde n’alma a angustia


quando não podemos reter o azul


e o crepúsculo chega vestido de lírio


pingando fogo


vazando delírio


e derramando laminas famintas


 em vão


os olhos suplicarem colírio






abraça-me a sensação


de “contornos sem essências”


o de Clarice Lispector mesmo


ali bem perto do


coração estilhaçado






a sensação de a alma


o ser, a vida, o todo


sentir e arder


como a pequena e ingênua aranha






que trêmula e palpitante


encharcada de álcool e chamas vorazes


esperneia e crepita em angustiante dor


sob o olhar perverso


do moleque tirano


que se chama Amor.




















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