Ele não reagiu aos evangélicos entregando-lhe o panfleto, nem os olhou, todos os dias a mesma cena, encostado na amurada, depois sentava-se no banco, imóvel, os olhos fixos no córrego sujo, as crianças chegavam no mesmo horário, trazendo bola e a algazarra, provocando-o, brincando de dar susto, Ehhh! Ehh ! Hei! E ele tão frio e indiferente como uma rocha sob o musgo, o sabiá mais pertinho, o joão de barro já rente a seus pés, outros pássaros mais ousados, e ele sempre de costas para a vida que jorrava na rua, indiferente ao murmúrio do comércio, a balbúrdia dos feirantes, e toda polifonia do cotidiano, quando a tantas do folguedo dos pequenos, a bola bate em suas costas, outro silêncio e os moleques petrificados, mas ele sequer virou-se, os meninos apenas paravam o jogo, diante de seu andar desacertado, seu tossir esganiçado, seu arfar descompassado, por nascer meio corcunda, e o golpe de misericórdia, apaixonar-se tão febrilmente pela moça tímida da floricultura mais sortida...
by DAVI CARTES ALVES
Um comentário:
Muito bom este mini-conto. Um abraço
Postar um comentário