quarta-feira, 11 de maio de 2011

Um cemitério de rosas negras








Naquele vale em coleante declive
crescem belas, porém lúgubres,
rosas negras
amiúde, surgem em suas pétalas
manchas de lágrimas ressecadas

Dizem ter existido ali
um antigo cemitério abandonado
cuidado apenas
por uma velha senhora
cujos filhos foram sepultados,
junto com
outras mães resignadas,

símbolo
de esperanças mutiladas
pelo anjo negro da intolerância
com sua balança “equitativa”
com pesos enchidos de covardia,
e de uma prepotência totalitária

podaram-se os rebentos matriarcais
não vi correr por esses gélidos campos
a pequena Godveliskaia
 e seu sorriso efusivo
fácil e cativante,
tão generoso em sua mãe

não vi caçar por esses vales
o pequeno Adriansakov
e a mesma intensidade e disciplina
de seu pai na sua coragem
qual destemido visionário
por uma Polonia soberana

Jamais verei as crianças
de Teofilia Serova, Angelina Vitalitherbo,
Ilena Tsvenikovia,
Vera Petrova, Selena Padkopaieva,
mamães levadas da Ucrania
em trens transbordantes,
e suas mãos acenadas em desespero
por inúteis acenos suplicantes,

jamais verei os novos irmãos de Karamazov
as lindas bisnetas de Anna Karienina e Vronski
o filho bastardo de Raskolnikov e Sonia
todos ceifados pelo lépido e voraz
anjo negro da intolerância

e sua balança “equitativa” ,
com pesos enchidos de covardia,
e duma prepotência totalitária
a voar num céu de mares de chumbo
onde gritos de inocentes reboam,
num silêncio insuportável
nos confins de uma Sibéria
e sua convalescença incurável

Naquele vale em suave declive
havia um antigo cemitério
ao ver a noite densa 
sobrepujar uma tarde fria e cansada
eis uma anciã de fronte vincada
sombria , encapuzada,
por fina garoa engolfada

e segurar numa oração balbuciante,
uma esquálida rosa negra
por suas lágrimas acariciada,
e numa lápide ilegível e disforme
tem suas pétalas derramadas.







DAVI CARTES ALVES








" As famílias felizes
parecem-se todas,
 as famílias infelizes,
são infelizes
 cada uma à sua maneira "


 Léon Tolstoi
no romance -  
Anna Karienina















Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom, David. Muito bom mesmo.


n.